Confira aqui informações sobre TODAS as escolas de samba que desfilam no domingo + o “verso a verso” dos sambas-enredo e seus significados! Para ver o post sobre as escolas e os enredos de segunda, clique aqui

*As escolas estão na ordem em que entram na avenida, junto aos horários previstos para início de seus desfiles. / Foto do post: desfile da Beija-Flor no sábado das campeãs em 2018.

 

1- IMPÉRIO SERRANO (21h15)

O Grêmio Recreativo Escola de Samba Império Serrano, o Reizinho de Madureira, foi fundado em 1947. É um das quatro grandes do samba (junto com Mangueira, Portela e Salgueiro) e já foi campeã 9 vezes (sendo a última em 1982). Uma das mais tradicionais e queridas agremiações cariocas, é a escola de Dona Ivone Lara, Molequinho, Silas de Oliveira, Beto Sem Braço, Aluisio Machado, Roberto Ribeiro, Wilson das Neves, Arlindo Cruz, Aniceto, Mano Décio, Tia Maria do Jongo e tantos outros nomes importantíssimos para a cultura brasileira.

O Império foi criado a partir da indignação de vários sambistas que faziam parte da escola de samba Prazer da Serrinha e se insurgiram contra uma decisão autoritária de Alfredo Costa, que a presidia. Sua fundação, além da questão da democracia, foi marcada também pela presença de trabalhadores portuários e que naquele momento estavam envolvidos com as lutas do Sindicato dos Estivadores.

Outra marca do Império Serrano é sua ala de compositores: são do Menino de 47 alguns dos maiores sambas-enredos da história, como Exaltação à Tiradentes, Aquarela Brasileira, Cinco Bailes da História do Rio, Herois da Liberdade, A Lenda das Sereias e Bum-bum Paticumbum Prugurundum.

Apesar de toda essa potência e tradição, o Império passa por altos e baixos nos últimos anos. Depois de deixar de figurar entre as primeiras colocadas anos anos 1980, ainda conseguiu se manter na elite nos 1990; já a partir dos anos 2000 passou a desfilar mais no Grupo de Acesso do que no Grupo Especial.

SAMBA-ENREDO

O Império Serrano escolheu ir para a avenida com “O Que É, O Que É?”, música de Gonzaguinha. Essa escolha esteve envolta em polêmicas, visto que é uma música que não pode ser enquadrada no gênero samba-enredo e por vir de uma escola que tem uma ala de compositores tão tradicional. É a única escola a não ter seu próprio samba-enredo neste ano.

Eu fico com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita e é bonita

Viver e não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser um eterno aprendiz

Ah meu Deus!
Eu sei, eu sei que a vida devia ser
Bem melhor e será, mas isso não impede
Que eu repita
É bonita, é bonita e é bonita

E a vida
E a vida o que é?
Diga lá, meu irmão
Ela é a batida de um coração
Ela é uma doce ilusão
Êh! Ôh!

E a vida
Ela é maravilha ou é sofrimento?
Ela é alegria ou lamento?
O que é? O que é?
Meu irmão

Há quem fale
Que a vida da gente
É um nada no mundo
É uma gota, é um tempo
Que nem dá um segundo

Há quem fale
Que é um divino
Mistério profundo
É o sopro do criador
Numa atitude repleta de amor

Você diz que é luta e prazer
Ele diz que a vida é viver
Ela diz que melhor é morrer
Pois amada não é
E o verbo é sofrer

Eu só sei que confio na moça
E na moça eu ponho a força da fé
Somos nós que fazemos a vida
Como der, ou puder, ou quiser

Sempre desejada
Por mais que esteja errada
Ninguém quer a morte
Só saúde e sorte

E a pergunta roda
E a cabeça agita
Eu fico com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita

2- UNIDOS DO VIRADOURO (22h20)

Fundada em 1946, a G.R.E.S. Unidos do Viradouro é a escola de samba mais conhecida da cidade de Niteroi. Até 1985, a escola praticamente desfilou apenas em Niteroi, tendo sido campeã por 18 vezes. A partir de 1986 a escola passou a desfilar no Rio de Janeiro, começando pelos grupos de acesso, até que em 1991 chegou ao Grupo Especial, onde foi campeã em 1997. Naquele ano, os destaques da escola foram a paradinha funk da bateria do mestre Jorjão e o carnavalesco Joãosinho Trinta.

A escola está retornando ao Grupo Especial após alguns anos no Grupo de Acesso e vem se programando para fazer um desfile forte. Contratou, por exemplo, o carnavalesco tetracampeão Paulo Barros e o mestre de bateria Ciça, que já estiveram na escola em outras ocasiões.

Se o nome de Ciça não é tão conhecido do grande público, o mesmo não se pode dizer de Paulo Barros. O carnavalesco esteve em destaque no carnaval carioca entre 2004 (quando apareceu no Grupo Especial com o vice-campeonato da U. da Tijuca) e 2017 (quando conquistou seu 4º título, dessa vez pela Portela; os outros três foram pela U. da Tijuca), tendo ficado conhecido por suas alegorias humanas e pelo uso de muito led, neon e outros materiais ditos modernos.

SAMBA-ENREDO

Se tem magia, encanto no ar

Eu vou viajar ouvindo histórias

De um livro secreto, mistérios sem fim

Vovó desperta a infância em mim

Em cada verso sou mais um menino

Que muda a sorte e sela o destino

Lançado o feitiço pra vida virar

Pro bem ou pro mal é carnaval

E na fantasia a minha alegria é um sonho real

No reino da ilusão o amor seduz o vilão

Num conto de fadas, a felicidade

Invade o meu coração pra cantar

Deixando a tristeza do lado de lá

A primeira parte do samba apresenta o enredo. Na sinopse, “Viraviradouro” é um livro secreto “da vovó” cheio de histórias. Segundo Paulo Barros, o enredo “é uma mensagem para que as pessoas repensem seus sentimentos de vida e voltem a agir como quando eram crianças, quando eram mais puras”.

E quem ousou desafiar a ira divina

Vagou no mar

Cego pela sede da ambição

Carregando a sina dessa maldição

Seres da sombria madrugada

O medo caminhou na escuridão

Mas a coragem que me faz lutar

É a esperança, razão de sonhar

Imaginar e renascer no sol de cada amanhecer

Das cinzas voltar

Nas cinzas vencer

A segunda parte, o samba segue abordando as histórias do livro imaginado pelo enredo. Na parte final, ele faz uma referência ao fato da Viradouro estar voltando ao Grupo Especial depois de uma longa temporada no Grupo de Acesso (de 2011 a 2018, esteve apenas em 2015 no Grupo Especial).

Quem me viu chorar, vai me ver sorrir

Pode acreditar, o amor está aqui

Viraviradouro iluminou

O brilho no olhar voltou

O refrão faz referência a esse processo de retomada da Viradouro ao time das grandes escolas. O verso “o amor está aqui” também se referencia ao carnaval de 1998, quando a Viradouro ficou em 3º lugar, quando seu samba trazia este tema no refrão.

3- GRANDE RIO (23h25)

A G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio é uma escola de Duque de Caxias, cidade da Baixada Fluminense, região metropolitana do Rio de Janeiro. A escola foi criada em 1988 e já em 1991 estava no Grupo Especial. Caiu no mesmo ano e retornou em 1993, de onde nunca mais saiu. Foi vice-campeã em 2006, 2007 e 2010.

Nos anos 1990 a escola apresentou enredos históricos densos. Em um dos seus refrões mais famosos (do samba-enredo de 1996), a escola afirmava que dava um banho de cultura. Após esse período, a partir dos anos 2000, a Tricolor de Caxias apostou em enredos patrocinados na maior parte dos seus desfiles.

Em 2018 a escola teve um péssimo desempenho devido a problemas em um carro alegórico e ficou em penúltimo lugar, o que deveria fazer com que fosse rebaixada para o Grupo de Acesso. Sua atuação nos bastidores fez com que houvesse uma virada de mesa, o que manteve a escola entre as grandes. O enredo de 2019 aborda o erro e a auto-crítica, o que tanto pode ser interpretado como uma ironia, uma chacota, ou como algo a sério.

 

SAMBA-ENREDO

Tá errado não importa quem errou

O pecado e o pecador

Sempre estão do mesmo lado

Tá errado, sem lição nem professor

Se o espinho fere a flor

O amor é maculado

No jeitinho que impera nessas bandas

É mais fácil o mau caminho pra jogar no tabuleiro

Na verdade do espelho

Quando a razão desanda

Vai seguindo em desalinho

Mesmo com o sinal vermelho

O samba começa buscando sintetizar a ideia central do errado: todos nós erramos e é preciso reconhecer isso. Além dessa questão, os versos sinalizam que quem faz errado acaba se dando melhor e por isso há uma tentação em fazer errado.

Atire a primeira pedra aquele que não erra

Quem nunca se arrependeu do que fez

Na vida todo mundo escorrega

Melhor se machucar só uma vez

O refrão do meio tem recado sobre a virada de mesa que beneficiou a Grande Rio em 2018: errou a escola, em ser beneficiada, mas erraram também aqueles que apoiaram a virada de mesa (ou seja, quase todas as demais escolas, visto que se sabe que apenas Portela e Mangueira foram contrárias). Além disso, coloca que a virada de mesa de 2018 não foi a primeira.

Cardume de garrafas pelo mar

Nem tarrafa nem puça alimentam o pescador

E a cisma de atender o celular

Pra curtir, compartilhar

Zombar do perigo, largar o amigo, perder o pudor

Neste trecho o samba lembra de pequenos erros do cotidiano.

Quem aí ta podendo julgar?

Não consegue ouvir outra voz

Cada um foi pensando em si

Olha o que fizemos de nós

Então pegue seu filho nas mãos

Educar é um desafio

Aqui temos uma referência ao fato de que muitas vezes os julgadores também cometem erros tais quais os que estão sendo julgados. Muitas vezes, ao apontar o dedo aos outros, negamos nossos próprios erros.

Se errei peço perdão

Renasce a Grande Rio

Referência ao rebaixamento e à virada de mesa de 2018.

Quem nunca sorriu da desgraça alheia?

Quem nunca chorou de barriga cheia?

Eu sou Caxias de tantos carnavais

Falam de mim, eu falo de paz

O refrão principal faz referência, novamente, a questão do erro e da autocrítica. Também cita cidade de Duque de Caxias, sede da Grande Rio, com um duplo sentido: caxias é também uma gíria para quem é sempre certinho.

4- SALGUEIRO (00h30)

O G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro é uma das escolas mais tradicionais do carnaval do Rio de Janeiro. Fundada em 1953 a partir da junção de outras escolas dos morros do Salgueiro e do Turano, a vermelho e branco já conquistou 9 campeonatos (o último foi em 2009).

O Salgueiro tem uma importância fundamental para o carnaval. Foi, por exemplo, a primeira escola a fazer um enredo sobre uma personalidade negra (Zumbi, em 1960). A temática negra, inclusive, esteve presente em muitos carnavais da escola desde então – e em 2019 não é diferente.

Em sua história de glórias também há um destaque especial para sua bateria, a furiosa, e para sua ala de compositores.

SAMBA-ENREDO (análise de Luiz Antonio Simas, historiador e escritor)

Vai trovejar!

Abram caminhos pro grande Obá

O samba começa com a evocação a um elemento da natureza ligado a Xangô e Iansã: o trovão. Obá é o rei ou governante entre os iorubás. Não confundir com a orixá Obá, que aparecerá no samba.

É força, é poder, o Aláfin de Oyó

Oba Ko so! Ao Rei Maior!

Alafin é um título dos obás, governantes do reino iorubá de Oyó. A tradição diz que o Xangô histórico foi o quarto alafin de Oyó, filho de Oranian e Torosi.

Oba Ko so – significa em português algo como “o rei não se enforcou” ou “o chefe não morreu” e se refere ao mito em que Xangô teria se enforcado por conta de uma vergonha que passou em Oyó. Resumo rapidamente: ao ganhar o poder de lançar fogo pela boca (o nascimento dos raios), Xangô não teve cuidados e, deslumbrado com o poder obtido, incendiou sem querer o próprio palácio. Envergonhado, foi para a floresta e se enforcou. Os partidários de Xangô, todavia, começaram a dizer que ele não tinha se enforcado, mas virado um poderoso orixá, encantado no fogo, deixando na terra um grande buraco. Obá ko so é uma expressão presente em um canto muito popular na cerimônia da “Fogueira de Xangô”, uma das mais fortes do candomblé. O rei está vivo! O Rei não se enforcou!, diz o Salgueiro.

É pedra quando a justiça pesa

O Alujá carrega a fúria do tambor

Referência a Xangô como um orixá da justiça, característica muito marcante do orixá no Brasil, e que tem a pedra (sobretudo a pedra de raio) como um de seus elementos.

O alujá é o toque clássico de Xangô nos candomblés. Em português, “alujá” significa algo como orifício ou perfuração. O alujá é um toque rápido e triunfal, evocando os poderes do orixá que dança com a força e a beleza das grandes labaredas.

No vento, a sedução (Oyá)

O verdadeiro amor (Oraiêiêô)

E no sacrifício de Obà (Obà Xi Obà)

Lá vem Salgueiro!

Referência ao mito das três mulheres de Xangô. Iansã – a senhora dos ventos – era a paixão manifesta no desejo da carne. Oxum (aqui citada pela sua saudação: oraieiêô) é a esposa sensual, devotada e ciumenta (os ciumes de Xangô também são terríveis). E Obá foi aquela que, se sentindo a menos amada, perguntou a Oxum o que ela tinha feito para ter o amor do rei. Oxum mentiu para Obá. Cobriu a orelha com um lenço e disse que Xangô a amava porque ela tinha oferecido a ele sua própria orelha, dentro de uma gamela – Xangô só come em gamelas de madeira, nunca em louças – com amalá-ilá (a comida predileta de Xangô, feita com quiabo). Obá cortou a orelha, acreditando em Oxum, e ofereceu a Xangô. Horrorizado, Xangô expulsou Obá de seu reino.  Aqui eu fiz a seguinte leitura: o samba diz que “no sacrifício de Obá / lá vem Salgueiro”. Será uma possível referência ao sacrifício amoroso de colocar um carnaval na rua?

Mora na pedreira, é a lei na Terra

Vem de Aruanda pra vencer a guerra

Eis o justiceiro da Nação Nagô

Samba corre gira, gira pra Xangô

Aqui já temos uma transição. É Xangô saindo da África e chegando ao Brasil. A pedreira é, especialmente na diáspora, considerada um elemento do orixá, detalhe presente com muita força na umbanda. O trecho também fala da Aruanda, uma espécie de lugar espiritual de onde vinham e para onde retornariam os espíritos ancestrais. Há quem diga que a Aruanda faria referência ao porto de Luanda, em Angola. De toda forma, a Aruanda é um lugar encantado de origem e retorno muito mais presente nos mitos da umbanda do que nos do candomblé.  A gira é a sessão das umbandas e encantarias. Defendo que a palavra seja uma corruptela de canjira. A canjira e o nome dado ao conjunto de danças rituais, realizadas em um grande círculo, nos terreiros muxicongos, angolo-congoleses, e nas casas de umbanda e quimbanda, unindo o conjunto de toques, transes e mandingas.

Rito sagrado, ariaxé

Na igreja ou no candomblé

A benção, meu Orixá!

É água pra benzer, fogueira pra queimar

Com seu oxê, chama pra purificar

O ariaxé é o local do terreiro onde estão enterrados os diversos fundamentos secretos da casa. Há quem se refira também a ariaxé para designar o local onde são preparados os banhos com as folhas sagradas dos orixás ou mesmo o quarto de recolhimento de noviças que estão fazendo a iniciação.

“Na igreja” pode ser referência ao sincretismo ou a um antigo rito de alguns velhos terreiros de candomblé, hoje praticamente extinto: as iaôs, no processo final de iniciação, costumavam percorrer até sete igrejas. O oxé é a grande ferramenta de Xangô; um machado de dois gumes

Bahia, meus olhos ainda estão brilhando

Hoje marejados de saudade

Incorporados de felicidade

Fogo no gongá, salve o meu protetor

Canta pra saudar, Obanixé kaô!

Machado desce e o terreiro treme

Ojuobá! Quem não deve não teme!

A evocação ao estado da Bahia é certamente referência ao enredo de 1969 do Salgueiro: Bahia de todos os deuses. Naquele carnaval, pela primeira vez, o falecido professor Júlio Machado desfilou como destaque com a fantasia de Xangô do Salgueiro.

O gongá é uma espécie de altar nas umbandas, onde ficam as imagens das entidades. Nas umbandas, aliás, Xangô costuma ser sincretizado principalmente com São Pedro, São João ou São Jerônimo.

“Obanixé Kawó kabiyèsílé” é a grande saudação de Xangô. Algo no sentido de “saúdem o rei que está na terra/na casa”. Ojuobá é um título de alta dignidade no candomblé, dado a pessoas notáveis e de grande sabedoria na casa de Xangô. Literalmente: os olhos do rei.

Olori xango eieô

Olori xango eieô

Kabesilé, meu padroeiro

Traz a vitória pro meu Salgueiro

O refrão! Aqui o bicho pega e o babado é forte. Orunmilá, o orixá da sabedoria oracular e sabedor dos destinos, diz que existem três espiritualidades importantíssimas relacionadas com Olori, que adquirimos antes mesmo do nosso nascimento: Aiama é a espiritualidade que escolhemos no Orum, aos pés de Olofin antes da grande e misteriosa descida para a vida terrena. Orunmilá testemunhou essa escolha.

Ainda no Orum, escolhemos também Akulela; um conjunto de atributos, virtudes, qualidades, defeitos, que carregaremos pela vida. Potencializar os irês (coisas boas) e afastar nossas tendências negativas ao longo da vida é processo que inclui autoconhecimento, boa conduta, consulta ao oráculo e ebó.

E a terceira? Me parece que aí entra o sentido do samba do Salgueiro. É Akuleba, a manifestação em nós das características de um orixá; aquelas que adquirimos na grande viagem que fazemos do Orum (o invisível) ao Ayê (essa vida na terra) nos ventres das poderosas mães.

Conclusão: Olori Xangô é uma fortíssima evocação da espiritualidade de Xangô presente em cada um de seus filhos. No caso do refrão, o grande filho me parece ser o próprio Salgueiro.

5- BEIJA-FLOR (01h35)

A G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis é a maior escola da baixada fluminense. Fundada em 1948, já foi 14 vezes campeã, sendo a maior ganhadora da “Era Sambódromo” (que foi inaugurado em 1984). Em 2019, com um enredo em homenagem aos seus 70 anos, vai buscar o bi-campeonato.

A Beija-Flor é uma máquina de desfilar. A escola produziu ao longo do tempo uma forma de ensaiar e organizar o carnaval que a torna sempre favorita. Enquanto muitas escolas ainda apostavam em alas comerciais, a Beija-Flor sempre priorizou as alas de sua comunidade, fortalecendo então quesitos como harmonia e evolução.

Outro destaque da escola é o intérprete Neguinho da Beija-Flor, que comanda o carro de som da azul-e-branco nilopolitana desde 1976.

SAMBA-ENREDO

Oh Deusa!

Tem festa no meu coração

Desfilo toda gratidão

Razão do meu cantar

A luz do meu viver

O que seria de mim sem você?

O samba começa com uma declaração de amor à escola. O fato da escola ser chamada de “Deusa” é uma referência ao samba “Deusa da Passarela”, um dos sambas-exaltação mais conhecidos do carnaval, de autoria de Neguinho da Beija-Flor. Esse samba é cantado sempre antes da escola entrar na Sapucaí.

Nascido feito rei menino

Em ninho de amor e humildade

Meu Pai direcionou o meu destino

Voar nas asas da felicidade

A escola foi fundada no dia 25 de dezembro de 1948. Por isso aqui temos referências à narrativa do nascimento de Jesus e do Natal.

E arrisquei um voo nesse lindo azul

Um mundo encantado pude recordar

Em fábulas bordei a fantasia

Ê saudade que mareja o meu olhar

O samba passa então a apresentar alguns carnavais da escola. A Beija-Flor foi uma das primeiras escolas que teve enredos oníricos, delirantes. Por isso temos referência às fábulas.

Herdeiro dessa terra me tornei

Cantei nossos recantos, tradições

Aqui temos uma referência ao fato da Beija-Flor ser a maior representação da cidade de Nilópolis e também ser uma das escolas que mais falou do Brasil em seus enredos. Por muitas vezes, lendas amazônicas, por exemplo, foram seu enredo.

Sou eu aquele festival de prata

Que na pista arrebata tantos corações

Novamente temos uma referência ao samba “Deusa da Passarela”, que se refere a escola como um “festival de prata em plena pista” e, no segundo verso, uma referência ao fato da Beija-Flor ter conquistado muitos torcedores também fora de Nilópolis ao longo de sua trajetória.

Ôôô Axé que no sangue herdei

No meu quilombo, todo negro é rei

Abre a senzala! Abre a senzala!

Nesse terreiro o samba é a voz que não cala

Referências aos enredos de temática negra/afro que a escola ganhou carnavais, como em 1983 (“A Grande Constelação das Estrelas Negras”) e 2007 (“Áfricas – Do berço real à corte brasiliana”).

Cresci, ouvindo acordes entre doces melodias

A bela dama retratada em poesia e o canto de cristal

Em 1995 a Beija-Flor teve Bidu Sayão, cantora lírica, como seu enredo.

A simplicidade no amor, aquele beijo na flor

Fez mais um sonho real

Em 2011 a Beija-Flor homenageou o cantor Roberto Carlos (com o enredo “A simplicidade de um Rei”) e foi campeã do carnaval.

Pátria amada da ganância

Eu pedi socorro pelos filhos teus

Referência ao samba-enredo de 2018, que levou a escola ao seu 14º título.

Algoz da intolerância

Mesmo proibido, fui a voz de Deus

Lembrança da alegoria do “Cristo Mendigo” do carnaval de 1989, um dos mais comentados e elogiados da história da escola, que a levou a um vice-campeonato. Essa alegoria é constantemente lembrada no carnaval (como no samba da Viradouro de 2008) e até fora dele, como na música Reconvexo, de Caetano Veloso (“Quem não seguiu o mendigo Joãozinho Beija-Flor”). Recentemente, esse desfile histórico completou 30 anos – confira mais aqui.

Toda essa grandeza, vem da nossa gente

Que esquece a dor e só quer sambar

É por esse amor e o meu valor me faz brilhar

Comunidade me ensinou

A ser apaixonado como eu sou

Ontem, hoje, sempre Beija-Flor

O final do samba traz novamente uma declaração de amor pela escola.

6- IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE (02h40)

Fundada em 1959, a G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense já foi 8 vezes campeã do carnaval, sendo que seu último título foi em 2001. Entre 1994 e 2001, a escola foi campeã 5x, sempre com desfiles que traziam um rigor nos quesitos técnicos, o que fez a escola ganhar a fama de ser uma escola chata.

Ao longo da sua história, a escola ficou conhecida também por seus enredos históricos densos. De uns anos pra cá, vem tentando se renovar para voltar a ter o protagonismo que teve no final dos anos 1990.

Em 2019 a escola apostou num enredo com um viés de crítica social, ainda que numa perspectiva bem diferente da Mangueira e/ou da Paraíso do Tuiuti. O enredo “Me Dá Um Dinheiro Aí” promete fazer uma crítica com muita ironia e bom humor.

SAMBA-ENREDO

Me dá, me dá, me dá me dá um dinheiro aí

Gostei da comissão, me dá meu faz-me rir

Pra investir no sonho e vestir a fantasia

Quero renda na baiana, nota 10 na bateria

O refrão faz uma aproximação do tema do enredo com o mundo do samba. A palavra “comissão” tem um duplo sentido, visto que serve tanto para designar a forma de corrupção quanto para a Comissão de Frente da escola.

A tentação seduziu a poesia

Da volta todo dia é a oferta e a demanda

Pecado capital da humanidade

Senhor da desigualdade

Sempre diz quem é que manda

A primeira parte do samba apresenta o dinheiro como um mal da nossa sociedade, responsável por “corromper” a poesia, por ser o “senhor da desigualdade” e por dizer “quem vai ter o poder”.

O arqueiro ergueu, aquela gente oprimida e sem paz

Perdeu meu bem, pobre fortuna, nobres ideais

Referência a Hobin Hood (o “arqueiro”), personagem mitológico, conhecido por roubar dos ricos e dar aos pobres.

Midas com o seu dedo de ouro

Condenou a própria filha a viver numa prisão

Aqui há uma referência ao mito do Rei Midas, que recebeu dos deuses o poder de transformar tudo em ouro e acabou fazendo isso com a própria filha.

Prata, pixulé, papel moeda e o homem escorrega

Mete o pé na ambição

Aqui o samba apresenta alguns dos apelidos do dinheiro e retoma a ideia de que ele corrompe as pessoas.

Troca-troca ê na beira da praia

Troca-troca ê na beira da praia

Um espelho por cocar, o negocio é um pecado

Ouro no mercado negro, negro é ouro no mercado

O refrão do meio se refere ao processo de chegada dos portugueses na América e a forma como se deu a colonização dos que já viviam por aqui. Há também uma referência a escravidão.

Tempos modernos, onde vidas valem menos

Boas ações não representam dividendos

A roda gira pro mais forte, poucos tem a sorte

De virar o jogo que o destino fez

Nesse trecho há mais uma vez referências ao processo de geração de desigualdades promovido pelo dinheiro.

Tem pato mergulhado no dinheiro

E o povo brasileiro nada por migalhas outra vez

Referência ao símbolo dos protestos liderados pela FIESP (o pato) em 2016 e que levaram ao processo de impeachment de Dilma Roussef. Após o impeachment houveram novas leis de benefício a empresários e não houve aumento de emprego ou melhores condições de vida.

Se é pra poupar

O porquinho pode até ser virtual

Hashtag no infinito, com cascalho

Eu to bonito no espaço sideral

Uma referência às novas formas de arrecadação de dinheiro (as vaquinhas virtuais) e ao uso da bitcoin.

Imperatriz, sentimento não tem preço, tem valor

Eu não vendo e não empresto

O meu eterno amor

Uma declaração de amor à escola, relacionando isso ao enredo, a partir da ideia de que o amor pela Imperatriz “não tem preço”.

7- UNIDOS DA TIJUCA (03h45)

A G.R.E.S. Unidos da Tijuca foi fundada em 1931 e, é portanto, uma das escolas pioneiras no carnaval carioca. Chegou a ser campeã do carnaval de 1936 e depois ficou muitos anos nas séries inferiores dos desfiles. Voltou a participar do Grupo Especial nos anos 1980 e a partir dos anos 2000 passou a disputar o título, tendo sido campeã em 2010, 2012 e 2014 (e vice-campeã em outras 4 oportunidades).

Desde que voltou ao Grupo Especial em 2000 a escola tem fortalecido seus quesitos de chão, como bateria, harmonia e evolução. A escola dificilmente perde ponto nesses quesitos e, por isso, se apresenta quase sempre como uma favorita no carnaval.

SAMBA-ENREDO

Hoje a Tijuca pede em oração

Veste a fantasia pra fazer o bem

Multiplica o sagrado pão

Amém (amém)

O refrão principal apresenta o enredo, que fala sobre a necessidade de dividir o pão e praticar a solidariedade.

Meu filho

Como é lindo o amanhecer

Reflete o Sol, a criação

Um bom dia a renascer

Pelos olhos do pavão

Sou a fé na vida

Esperança da massa

Aquele que na dor te abraça

Sou eu, a verdade pra quem pede luz

Carregando a sua cruz

O alimento em comunhão

Princípio da salvação

O samba tem um formato de oração e essa primeira parte traz bastante elementos disso. Em primeira pessoa, busca essa aproximação com o próximo. O pavão é o símbolo da escola.

Ouço chamar meu nome

Ouço um clamor de prece

Choro ao te ver com fome

Sou o cordeiro que a alma fortalece

O refrão do meio, além da evocação à solidariedade com o próximo, traz uma referência bíblica, em relação ao cordeiro.

Só existe um caminho (por favor)

Cada um faz seu destino (meu senhor)

As migalhas do poder que o diabo amassou

Estão dentro de você

Aqui temos versos que sintetizam o enredo, a partir da ideia de que cada um deve fazer a sua parte (“cada macaco no seu galho”) e aí teremos o bem comum. Também há uma sugestão de que todos nós somos passíveis de críticas, visto que as “migalhas do poder” também estão em nós.

As mãos unidas vem pedindo o perdão

Gente sofrida com a paz no coração

Dividem o pouco que tem pra comer

Dividem o pouco que tem pra comer

Ó, meu pai, o seu amor é a receita

Iluminai, que não me falte o pão na mesa

Derrame igualdade, prosperidade

As bênçãos do céu

Se Deus é por nós, escute a voz

Mais uma evocação à solidariedade e um pedido para que Deus ilumine todos e todas para que sigam este caminho da fraternidade e do bem comum.

Que vem do meu Borel

Morro do Borel é o local de fundação da Unidos da Tijuca.

__________________________________________________

Para conferir todas as escolas de samba que desfilam na segunda-feira, 04 de março de 2019, clique aqui.

O carnaval carioca é uma linda manifestação cultural, uma época muito feliz na cidade. Leia também outras matérias de carnaval no Vida Carioca:

1 comentário

Escrever um comentário