Produção totalmente brasileira, o musical infantil Zaquim tem canções originais e linguagem híbrida – dança, música, teatro, show. Zaquim é uma emoção, um som, uma brincadeira, uma palavra; Zaquim está na aventura de ser e crescer desses que são pingos no universo.

As crianças vão crescendo e todos os dias aprendem coisas novas: uma letra, um sabor, um sentimento. Sempre foi assim, mas atualmente o ritmo é mais intenso, quase frenético! “Meu neto Zazu, de 4 anos, tem informações que eu somente tive quando adolescente. A internet é o mundo. Os pequenos mexem nas telas e nos celulares com habilidade”, diz Aniela Jordan, produtora e idealizadora do musical. “Zaquim não tem história linear, é um sentimento, uma intenção, um desejo”, completa a avó de Zazu, uma das crianças que inspira o título da peça.

Zazu e Joaquim, os meninos que dão nome ao espetáculo, nasceram no mesmo dia, na mesma maternidade e trazidos à luz pela mesma médica. Gabriel Pardal, responsável pela dramaturgia, é pai de Zazu. E Joaquim é filho do diretor musical Felipe Habib e da atriz Marina Palha, ambos por trás do show.

Recomendo prestar muita atenção no texto e nas letras das músicas para maior imersão nessa lindeza de espetáculo que abre e fecha num fuzuê contagiante e está recheado de provocações! Na aventura de ser e crescer que é a infância – e a vida inteira, por que não? – há inquietações no percurso, principalmente para os que pensam demais, como vemos, de forma muito divertida, na cena da moça que quer sair de casa sem a cabeça, pois seu cérebro cheio de ideias lhe exaure, e até quando dorme, tem sonhos sem pé nem cabeça. Os adultos se identificam e as crianças riem.

Assuntos como expectativas, medo de errar, cismas e contradições são abordados com sutileza. Um momento precioso da peça, na minha opinião, é uma frase mais ou menos assim: “Quero te dizer que, se você quiser, eu posso”. Palavras costuradas com afeto fazem toda a diferença!

Desse projeto, que é pura satisfação e graça, que fala com crianças de todas as idades e com a criança que existe em cada um de nós, nasce também uma nova cia teatral, a Trupe Zaquim, que se especializará em teatro conceitual e de conteúdo. A trupe está composta pelos atores Bruno Quixotte, Jef Lyrio, Marina Palha, Quel, Raphael Pippa e Vitor Novello, que dançam, cantam e tocam guitarra, baixo, acordeon, bandolim, ukulelê, djembê, pandeiro, tamborim, ovinho, caxixi e triângulo.

Dirigido por Duda Maia, de sucessos do teatro brasileiro, como Auê, Elza, A Gaiola, Contos Partidos de Amor e outros, Zaquim é fruto de criação coletiva de toda a equipe. Segundo a atriz Marina Palha, “Zaquim é como um sentimento sem nome, mas também pode ser uma brincadeira das letras e das palavras”, e a diretora, aproveitando a ideia do espetáculo ser qualquer coisa que se queira alcançar, dá asas à criação. Para quem já conhece outros trabalhos seus, se nota sua marca nos movimentos dos atores, até na forma como mexem os dedinhos dos pés, extremamente delicado!

O cenário é minimalista (de Mina Quental, que também fez as peças Piquenique e O Abacaxi): o palco é uma grande caixa onde tudo acontece, uma caixa que também é casa, ninho e brinquedo, sendo explorada pelos atores em todas suas possibilidades. O elenco de roupas brancas, uma grande “tela em branco”, onde a imaginação é livre e a luz é tinta que colore a tela.

No final, as crianças são convidadas a desenhar o que pensam ser Zaquim. Ou seja, a brincadeira continua depois do teatro e os pingos de gente podem extravasar a imaginação, materializando o Zaquim de cada um.

O Teatro Prudential, no antigo Edifício Manchete, foi reformado recentemente e sempre traz novidades de qualidade. Fique de olho na programação. A vontade de ver Zaquim também veio quando soube que o texto é de Gabriel Pardal, artista, escritor e autor do podcast Cadernos de Observação, onde fala de música, literatura e arte, de  quem venho acompanhando o trabalho há algum tempo.

Zaquim é uma bela amostra de trabalho feito em grupo, dinâmico e plural, um espetáculo impecável. Está em cartaz no Teatro Prudential (Rua do Russel, 804, Glória), de 09/10 a 15/11, aos sábados, domingos e feriados (dependendo do dia, sessão às 11h ou às 16h). Com sessões extras em alguns dias de semana para escolas públicas. Classificação livre e duração de 60 minutos. Ingressos (R$40 inteira / R$20 meia) podem ser adquiridos na bilheteria ou pelo Sympla. Confira também o Instagram de Zaquim.

“E cada pingo que há importa pingar”


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