A primeira vez que assisti um trabalho da Artesanal Cia de Teatro, saí emocionada, era “O Gigante Egoísta”. Me aqueceu o coração ver como havia gente tão delicada que manipulava bonecos com tanta gentileza. O mundo lá fora acontecendo, incêndios nas florestas, enchentes em Minas, água contaminada no Rio, balas perdidas, coronavírus… e uma delicadeza cativante ali no palco. Pura poesia e encantamento. Como precisamos disso! “Brasil, seu remédio é a arte”- li essa frase outro dia pichada n’algum muro. Foi com essa sensação que saí de “Tatá – O Travesseiro”!

Com direção de todo o repertório assinada por Gustavo Bicalho e Henrique Gonçalves, “Tatá – O Travesseiro” é o mais novo trabalho da Artesanal Cia de Teatro para o público infanto-juvenil. Sempre com produções muito bem feitas, a companhia teatral recentemente também ocupou os palcos do CCBB Rio com “Quando as Pessoas Andam em Círculos”, essa voltada para o público jovem, cujo protagonista, o ator Ciro Acioli, recebeu o Prêmio São Paulo de Incentivo ao Teatro na Categoria de Melhor Ator. “Tatá – O Travesseiro” estreou em 2019 em São Paulo, levando, em 61 apresentações gratuitas, um público de mais de 15 mil pessoas ao Teatro do SESI. A peça traz indicações de melhor espetáculo nos prêmios Folha de São Paulo e Aplauso Brasil.

Tatá é o nome do travesseiro do menino Lipe. O melhor amigo de Lipe é Tatá. Sabe quando a gente se deita naquela cama gostosa, com um edredom que te abraça e você se sente acolhido e em paz? Nessa história, o travesseiro também é protagonista desse abraço. “Tatá – O Travesseiro” é uma história de amizade, dentre outras coisas, de um menino e seu melhor amigo, nesse caso, um travesseiro. E por aí já podemos imaginar conflitos da infância em que o melhor amigo de um menino não é outro menino. A narrativa, muito bem casada com a trilha (já voltaremos nesse assunto da música), gira em torno de Lipe, uma criança tímida e introspectiva, que se apega a seu travesseiro e tem muito medo de perdê-lo. E não é que um dia Tatá desaparece? E aí um mundo de fantasia se descortina. Da cama do Lipe para o espaço ou a bordo de navios piratas, começa uma aventura em busca do melhor amigo desaparecido.

Lipe acredita que Tatá foi sequestrado pelo Pirata dos Sonhos. E aqui mais questões são despontadas. Ele terá que ser valente, enfrentar seus medos e angústias no resgate do amigo. No decorrer da história, temas importantes, que vão além do lúdico, aparecem: adoção, bullying e separação. Tudo tratado com beleza e delicadeza incomuns.

No palco são quatro atores que dão vida aos bonecos criados e confeccionados por Bruno Dante. No elenco são seis atores que se revezam: Alexandre Scaldini, Edeilton Medeiros, Lívia Guedes, Márcio Nascimento, Marise Nogueira e Tatá Oliveira. No dia em que assisti estavam Lívia (mãe), Márcio (pai), Marise (O travesseiro Tatá e a gata) e Tatá (Lipe). O elenco é primoroso, demonstra muito amor ao ofício, é emocionante vivenciar o carinho deles na forma de lidarem com os bonecos.

A direção é de Henrique Gonçalves e Gustavo Bicalho. Esse último divide a dramaturgia com Andrea Batitucci e Patrícia Von Studnitz, e é também responsável pela trilha sonora, indispensável em “Tatá – O Travesseiro” (ouço a playlist da peça no Spotify enquanto escrevo!). Repare que as músicas estão muito bem encaixadas à narrativa, se integram às cenas, sublinhando o que vemos. Este não-dito se funde à iluminação, empregada por Poliana Pinheiro e Rodrigo Belay, e todo um trabalho de manipulação direta, máscaras, objetos, teatro de sombras e bonecos híbridos ou siameses – técnica em que parte do boneco é “vestida” pelo ator/manipulador.

Esse jogo de bonecos, luzes e sombras fascinou meu filho, que tem 3 anos, a ponto de ele, em nenhum momento de “Tatá”, sequer encostar na cadeira. Ficou atento e fascinado durante todo o espetáculo, degustando cada momento. Será que foi tudo um sonho? Vamos celebrar o teatro!

“Tatá – O Travesseiro” é uma obra de arte. Visualmente rico, apesar da simplicidade, desperta diversas sensações e é cheio de mensagens. O cenário lindo e os adereços são de Karlla de Luca. Desenho de som de Luciano Siqueira e figurinos de Fernanda Sabino e Henrique Gonçalves. Direção de movimento dos atores e preparação corporal e técnica são, respectivamente, de Paulo Mazzoni e Márcio Nascimento.

O texto é quase que totalmente narrado em off, com pouquíssimos diálogos. “Logicamente, estas são escolhas estéticas, que guiaram todo o pensamento e construção artística da peça. Também buscamos a simplicidade, reduzindo ao mínimo necessário os elementos de cena. Dessa forma, conseguimos colocar uma lente de aumento nas relações entre pais e filho, sem usar de efeitos que visam muito mais ludibriar a audiência do que jogar uma luz sobre a urdidura dramática da trama”, explica Henrique Gonçalves, um dos diretores de Tatá e também um dos idealizadores da Artesanal.

A Artesanal Cia de Teatro, com 24 anos de trajetória, vem produzindo espetáculos de teatro para o público infantil e jovem com uma linguagem inovadora, que converge no uso de bonecos, sombras, máscaras, canto, cinema e videografismos. Este é o primeiro espetáculo usando apenas bonecos, máscara e teatro de sombras.

Um trechinho de uma música de “Tatá – O Travesseiro”, diz “So which way is the wind blowin / And what does your heart say?’ – em tradução livre: Então, em que direção o vento sopra e o que diz seu coração? (“Follow the Sun“, de Xavier Rudd).

O Vida Carioca recomenda fortemente os espetáculos nascidos das mãos da Artesanal Cia de Teatro. Leia aqui outras peças assistidas por nós da companhia: O Gigante Egoísta (infantil) e Quando as Pessoas Andam em Círculos (primeiro espetáculo do repertório feito para o público jovem).

“Tatá – O Travesseiro” está em cartaz no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB Rio – Rua Primeiro de Março 66 – Centro – 21 3808-2007) de  11/01/20 a 1º/03/20, aos sábados e domingos, às 16h (Em  22 e 23/02, final de semana do carnaval, não haverá sessões). Classificação livre, duração de 50 minutos. Ingressos custam R$ 30 inteira e R$ 15 meia e podem ser adquiridos na bilheteria ou online. Lembrando que clientes Banco do Brasil e assinantes O Globo pagam meia entrada no CCBB. Mais infos na página do Facebook da Artesanal Cia de Teatro.

Créditos das fotos: João Julio Mello e Lincoln Grosso

*A experiência contada nesse post foi uma cortesia do evento.

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