Para comemorar seus 30 anos, o CCBB Rio reúne cinco das principais companhias brasileiras de teatro que já passaram por lá. Crème de la crème das artes cênicas! Entre os dias 11 de setembro e 14 de outubro de 2019 a mostra apresenta os espetáculos mais consagrados de seu repertório, sendo dois infantis e seis adultos.

• Post escrito pela colaboradora Carolina Machado. 

Está em cena um significativo painel das artes cênicas nacional representado pelas cinco mais importantes companhias teatrais do país: Cia dos Atores, Cia Dos à Deux, Cia PeQuod, Aquela Cia de Teatro e Artesanal Cia de Teatro.

Segundo Sergio Saboya, curador da mostra, “todas as companhias convidadas possuem trabalhos distintos de pesquisas extremamente significativas para a renovação e a qualidade da cena teatral brasileira contemporânea. São trabalhos germinais, que quebram paradigmas e contribuem amplamente para nosso teatro de forma geral”.

Saiba mais sobre as cias e seus respectivos espetáculos sendo apresentados no aniversário de 30 anos do CCBB Rio:

A Cia Dos à Deux é formada pelos atores e bailarinos Artur Luanda Ribeiro e André Curti, existe desde 1998 e tem sede no Rio e Janeiro e Paris.  Sua principal marca é a linguagem gestual e corporal. Reapresentam “Irmãos de sangue” (2013), cuja história traz a relação entre três irmãos e a mãe, apresentando diferenças que superam os laços familiares e expõem a enorme diversidade de sentimentos de um complexo relacionamento.

A Cia dos Atores traz “Insetos” (2018) e “Conselho de classe” (2014), espetáculos que marcam a parceria do grupo com o dramaturgo Jô Bilac. Formada pelos atores César Augusto, Gustavo Gasparani, Marcelo Olinto, Marcelo Valle, Susana Ribeiro e Bel Garcia (in memorian), a companhia carioca celebra 31 anos de atividade ininterrupta. “Insetos” aborda uma organização social de insetos que abandona a civilização humana autodestrutiva. Qualquer semelhança com a vida real é mera coincidência. Quem não conhece alguém morando em Portugal, que atire a primeira pedra! O espetáculo é um desfrute, uma riqueza de conjunto e recebeu diversas indicações aos principais prêmios de teatro do país. Vencedora do Prêmio Cesgranrio de Teatro, “Conselho de Classe” tem uma escola pública como cenário trazendo um reunião de professores desestabilizada pela chegada de um novo diretor.

Aquela Cia de Teatro tem em seu núcleo, desde 2005, Marco André Nunes e Pedro Kosovski que vêm desenvolvendo, ao lado de outros artistas, uma linguagem cênica própria. Mais recente trabalho do grupo, “Guanabara canibal” (2017) busca pensar e debater a questão indígena, tendo como pano de fundo a tomada do Forte de Villegagnon, célebre batalha naval travada na Baía de Guanabara, em 1560, que resultou na fundação da cidade do Rio de Janeiro. Premiado em diversas categorias, “Caranguejo Overdrive” (2016) conta a história de um ex-catador de caranguejos no mangue carioca da metade do século XIX. Após um tempo longe, ele volta ao Rio e encontra uma cidade em grande transformação. A música em cena, com influência do maguebeat, compõe a performance. Achei contagiante! E a atriz Carolina Virguez dá um show à parte!

A Cia Pequod tem à frente o diretor Miguel Vellinho, quem procura refazer os limites do seu teatro aproximando-se de outras manifestações artísticas, como a dança, a literatura, os quadrinhos, o cinema e a fotografia. Tudo sem jamais perder o caráter artesanal da confecção dos bonecos, figurinos e cenários. Apresentam na mostra “A chegada de Lampião ao inferno” (2009), que mergulha de cabeça na cultura brasileira fundindo tradição e modernidade. Tem dois momentos distintos: o primeiro sem palavras e todo feito com bonecos, e o segundo combinando atores, bonecos e objetos. Trilha sonora de André Abujamra.

A Artesanal Cia de Teatro, com 24 anos de trajetória sob a direção de Gustavo Bicalho e Henrique Gonçalves, vem produzindo espetáculos de teatro para o público infantil e jovem com uma linguagem inovadora, que converge no uso de bonecos, sombras, máscaras, canto, cinema e videografismos. “Por que nem todos os dias são dias de sol?” (2016) apresenta quatro contos com questões colocadas por crianças numa pesquisa realizada pelo grupo sobre temas de amor, liberdade, vida, entre outros.

Já o “O gigante egoísta” (2013) é baseado no conto homônimo de Oscar Wilde e venceu o Prêmio CBTIJ de Melhor trabalho de formas animadas e do Zilka Sallaberry nas categorias Espetáculo, Ator e Figurino. Conta a história de um gigante que não permite crianças brincando em seu jardim. Ao afastá-las, o lugar é assolado por um inverno sem fim e o gigante amarga uma imensa solidão, até que um menino infringe as regras e começa a cuidar das flores e das árvores. Fiquei tocada pela sensibilidade dos atores, o cuidado com os bonecos, o amor pelo que fazem. Quanta beleza!

CCBB 30 ANOS

Inaugurado em 12 de outubro de 1989, o CCBB celebra 30 anos de atuação com mais de 50 milhões de visitas. Instalado em edifício histórico, projetado pelo arquiteto do Império, Francisco Joaquim Bethencourt da Silva, é um marco da revitalização do centro histórico da cidade e mantém uma programação plural, regular, acessível e de qualidade. Mais de três mil projetos já foram oferecidos ao público nas áreas de artes visuais, cinema, teatro, dança música e pensamento.  Desde 2011, o CCBB incluiu o Brasil no ranking anual do jornal britânico The Art Newspaper, projetando o Rio de Janeiro entre as cidades com as mostras de arte mais visitadas do mundo. Parabéns a esse enorme agente fomentador da arte e da cultura brasileira, formador de plateias. Não perco uma exposição do CCBB desde que estou no Rio e sempre fico deliciosamente surpresa ao ver como sempre tem público! Já perdi também as contas de quantas peças de teatro assisti nesse lugar que pulsa cultura e é pra mim, um de meus lugares preferidos na cidade. Dá gosto!

Veja a seguir a programação completa:

Cia Dos à Deux

“Irmãos de sangue”, direção de André Curti e Artur Luanda Ribeiro

TEATRO I. Datas: 11, 12, 13 e 14/09, às 19h. Sessão dupla: 15/9, às 16h e às 19h.

Duração: 85 min. Classificação etária: 14 anos.

Cia dos Atores

“Insetos”, direção de Rodrigo Portella.  18, 19 e 20/09, às 19h. Duração: 80 min. Classificação etária: 14 anos.

“Conselho de classe”, direção de Bel Garcia e Susana Ribeiro. 21, 22 e 23/09, às 19h. Duração: 90 min. Classificação etária: 14 anos.

Artesanal Cia de Teatro (ambos espetáculos infantis)

“O gigante egoísta”, direção de Gustavo Bicalho e Henrique Gonçalves.  25, 26 e 27/09, às 19h. Duração: 55 min.

“Por que nem todos os dias são dias de sol?”, direção de Gustavo Bicalho e Henrique Gonçalves. 28, 29 e 30/09, às 19h. Duração: 55 min.

Cia PeQuod

“A chegada de Lampião ao inferno”, direção de Miguel Vellinho. 05, 06 e 07/10, 19h30. Duração: 70 min. Classificação etária: 16 anos.

Aquela Cia de Teatro

“Caranguejo Overdrive” (imagem principal do post), direção de Marco André Nunes. 09/10, às 20h. Sessão dupla: 10/10, às 17h e às 20h. Duração: 70 min. Classificação etária: 18 anos.

“Guanabara Canibal”, direção de Marco André Nunes. 12, 13 e 14/10, às 19h30. Duração: 90 min. Classificação etária: 10 anos.

A programação também conta com debates e bate-papos gratuitos. O Vida Carioca já esteve em “Caranguejo Overdrive”, “Insetos”, e o infantil “O Gigante Egoísta” (e pretende ver mais porque a mostra ainda perdura!).

“CCBB 30 anos de Cias” está com temporada de 11/09 a 14/10/19 nos Teatros I, II e III do CCBB Rio (Rua Primeiro de Março, 66 – Centro. Tel. 21 3808-2020). Ingressos custam R$30 inteira e R$15 meia na bilheteria do teatro (que funciona de quarta a segunda das 9h às 21h) ou online.

NOTA: O espetáculo “Caranguejo overdrive” foi retirado da mostra sem uma justificativa clara – um caso de censura. Com isso, a Aquela Cia de Teatro não participará do evento e a comemoração do CCBB termina antes do previsto. Que notícia triste para a vida cultural do Rio de Janeiro… Saiba mais aqui.

Créditos das fotos: Ângelo Ântonio Duarte, Bruno Lorenzo, Elisa Mendes, Lucas Ayres e Renato Mangolin.

*A experiência contada nesse post foi uma cortesia do evento.

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