Para quem ouve falar do Samba do Trabalhador pela primeira vez, pode até parecer estranho que uma das rodas de samba mais tradicionais do Rio aconteça na segunda-feira à tarde. Mas é isso mesmo! Toda segunda, a partir das 16h, o Clube Renascença recebe a roda comandada pelo bamba Moacyr Luz. O Samba do Trabalhador é mais do que um reduto de boa música, é uma bela demonstração da cultura carioca!

Moacyr Luz tem uma vasta carreira como cantor e compositor – são 12 discos gravados, incluindo músicas com participação de diversos artistas, como Alcione, Beth Carvalho, Mart’nália, Luiz Melodia, Zeca Pagodinho. Assim como mais de 100 músicas de sua autoria e coautoria já ganharam o Brasil através das vozes de Martinho da Vila, Maria Bethânia, Nana Caymmi, Zeca Pagodinho e Gilberto Gil, entre outros.

Em 2005, Moa (como é conhecido pelos amigos e fãs) teve a ideia de criar uma roda de samba na segunda-feira à tarde. O horário, inadequado para grande parte da população, seria ótimo para reunir os músicos, que costumam ter suas agendas lotadas nos finais-de-semana. Não foi algo muito planejado… Numa comemoração no Renascença Clube, Moa falou com o então presidente do clube Jorge Ferraz, que aceitou de pronto a sugestão. Poucos dias e muitas ligações depois, a primeira edição do Samba do Trabalhador aconteceu. Era uma reunião de músicos e convidados (em torno de 40 pessoas no total), que iniciou com um almoço preparado pelo próprio presidente do clube e terminou pelas 20h.

O nome Samba do Trabalhador foi escolhido pelo compositor Toninho Geraes, como uma brincadeira com o horário do evento. Afinal, qual trabalhador poderia estar presente num samba na segunda-feira à tarde? Porém, contrariando as óbvias previsões de que esse não seria bom horário para um evento, o Samba do Trabalhador viu seu público pular de 40 para 300 pessoas em apenas dois meses. A roda de samba virou assunto em jornais e bares da cidade, de forma que a cada segunda-feira, o Clube Renascença ficava mais cheio. Com isso, Moacyr Luz decidiu gravar um DVD ao vivo (algo, até então, inédito para uma uma roda de samba). No dia da gravação, a 14ª apresentação da roda, o Samba do Trabalhador contou com a impressionante marca de 1.500 pessoas na casa!

De lá pra cá, muita coisa aconteceu. A formação original do Samba do Trabalhador sofreu diversas mudanças, o Renascença Clube passou por várias melhorias para receber o público de forma mais confortável, o valor da entrada foi reajustado (no início era de graça, hoje custa R$ 25). Mas a essência se manteve! Eu, que sou gaúcha e só vim morar no Rio quando o Samba do Trabalhador já era uma tradição na cidade, considero essa roda de samba na segunda-feira uma espécie de amostra da cultura do Rio. É um lugar simples, frequentado por pessoas de várias classes sociais e idades, que estão lá pelo mesmo motivo: ouvir música de altíssima qualidade e celebrar a vida!

A energia do Samba do Trabalhador é algo meio inexplicável, só estando lá para entender… Artistas de primeira cantam e tocam junto ao público – onde se vê desde crianças até pessoas da terceira idade – em um show vibrante do início ao fim. E isso que são mais de quatro horas de apresentação! Em 2015, ao completar 10 anos, o Samba do Trabalhador gravou o CD “10 Anos e Outros Sambas”, com o qual conquistou mais um grande feito: levou o título de melhor Grupo na categoria Samba do Prêmio da Música Brasileira de 2016.

Ainda é preciso dizer que o próprio Clube Renascença também tem uma história incrível. Fundado nos anos 50 por negros de classe média, o Rena (apelido dado pelos frequentadores) nasceu para ser um espaço de resistência cultural onde negros não sofressem preconceito algum! Nas décadas seguintes, foi palco de concursos de beleza e movimentos culturais negros, incluindo black music e samba. A parceria entre Samba do Trabalhador e Clube Renascença é tão especial que parecem ter sido feitos um para o outro!

Atualmente, o Samba do Trabalhador é formado por Moacyr Luz (voz e violão), Gabriel Cavalcante (voz e cavaco), Alexandre Nunes (voz e cavaco), Nego Alvaro (voz e percussão), Luiz Augusto (percussão), Nilson Visual (surdo), Junior Oliveira (percussão), Mingo Silva (voz e percussão) e Daniel Neves (violão de 7 cordas). Além desses músicos que compõem a roda com muita sinergia, vários outros frequentam o samba e acabam dando palhinhas, já que segundas-feiras continuam sendo o dia de folga para a maioria dos artistas. Teresa Cristina, por exemplo, é presença frequente por lá.

O Samba do Trabalhador acontece religiosamente toda segunda-feira. O Clube Renascença fica na Rua Barão de São Francisco, 54, no bairro Andaraí, zona norte da cidade. A entrada custa R$ 25 e o samba começas às 16h e termina pouco depois das 21h. Para mais informações, acesse o facebook do Samba do Trabalhador e o site oficial de Moacyr Luz. Se quiser conhecer mais a fundo a história do Samba do Trabalhador, recomendo o livro “Segunda-feira – A História do Samba do Trabalhador”, de Daniel Brunet. Foi nesse livro que peguei algumas informações contadas aqui.

Para terminar o post, deixo um vídeo com um pouco da vibe do Samba do Trabalhador:

2 comentários

  1. Sensacional esse lugar, texto maravilhoso, me transporta. Adoro!!

    • Que bom que gostou do texto! Realmente o Samba do Trabalhador é fantástico! 🙂

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