O Grelo Falante está em dose dupla no Teatro Sérgio Porto: porque o grelo é feminino e falador e o que é bom a gente pede bis. Precursor do humor corrosivo falado por mulheres, o grupo formado por um trio de beldades boas de papo apresenta “O Grelo em Obras” e paralelamente, “Não Peça”. O Grelo nasce para falar o que não se fala. Os grelos são críticos, polêmicos, atrevidos, destemidos e contestadores. Estão preparados? Carmen Frenzel, Claudia Ventura e Lucília de Assis são revolucionárias. Mulheres, uni-vos!

Primeiramente, quero dizer que sou feminista e cada dia que passa admiro mais as mulheres. Também gostaria de deixar claro que o fato de eu admirar pacas as mulheres não quer dizer que eu despreze os homens. Apenas superestimo, mesmo, nós mulheres, porque passamos por uma trajetória custosa até chegar aqui, cada uma a sua maneira e a sua medida.

Estive na estreia de “O Grelo em Obras”, em 4 de agosto num teatro que gosto muito, o Sérgio Porto, no Humaitá. Foi libertador compartilhar algo da fala delas e me senti representada pela maioria do que foi dito, ou melhor dizendo, gritado ali. “Tamo junta!”

Você já ouviu falar no coletivo O Grelo Falante? Pois as três atrizes e roteiristas que o compõem são muito famosas e pioneiras no humor falado por mulheres no Brasil. Carmen Frenzel, Claudia Ventura e Lucília de Assis não têm papas na língua. Essas três flores têm muita desenvoltura pra debater qualquer assunto. Fique você incomodado ou não, o que o grelo tem a gritar ruborizaria muita gente. Tô brincando! A peça não fala de sexo, mas do sexo feminino.

Peço perdão se eu fizer aqui algum comentário machista. Pois como já disse, sou feminista, mas pelo histórico desigual, às vezes por distração acabamos repetindo padrões… Mais ou menos o que aconteceu com o Grelo Falante, nascido há 20 anos. “O Grelo em Obras” é uma releitura do trabalho feito pelo grupo até aqui. O espetáculo revisita seu passado com autocrítica e tem a oportunidade de se redimir de colocações, de certa forma, equivocadas, feitas há tanto tempo, afinal as mudanças foram vertiginosas. O espetáculo marca duas décadas de vida d’O Grelo Falante com direção de Fabiano de Freitas e com texto e atuação dessas três mulheres fascinantes.

Durante a temporada de “O Grelo em Obras”, toda segunda-feira, Lucília de Assis, uma das integrantes, apresenta ainda o espetáculo solo Não Peça”, com direção de Bianca Byington. A atriz dá vida a uma mulher que mora no teatro e ali trabalha como faxineira, bilheteira e baleira. E como se não bastassem tantas atribuições, um dia, quando o elenco da peça em cartaz fica preso num engarrafamento, ela recebe a incumbência de segurar o público até a chegada dos atores. O texto é uma pérola. E a ideia não é super original? Até cafezinho tomei a assistindo. Bem mais proveitoso sair de casa para vivenciar a “Não Peça” do que sentar-se na frente da TV. Gostei muito! Fiquei imaginando se chega um espectador desavisado, desses que vão ver um filme ou uma peça de teatro no escuro, deve acreditar que aquilo é real… Pensei na reação dele quando acabasse, seria hilário! Lucília é tão naturalmente engraçada que a gente não consegue deixar de rir mesmo diante de seus (belíssimos) relatos de infância sofrida. O trecho da história “não morreu, recolheu” é o mais comovente!

O Grelo Falante nasce como uma resposta às revistas femininas, super machistas que ensinavam, por exemplo, como agradar um homem na cama, ou às adolescentes como se disfarçar para comprar camisinha na farmácia. Se fazer sexo já era um escândalo, sexo seguro então significaria que iria fazer de novo, oh! E mais uma vez a mulher era colocada em posição submissa, aquela que dá prazer, mas não tem prazer, sempre querendo aprazer o outro. Isso dá tanto pano pra manga… Como mulheres que aprenderam a não rir, para não parecer vulgar, e homens que foram ensinados a não chorar, para não mostrar fraqueza.

Tanto tempo perdido, tanta energia sendo reprimida pra quê? A proposta do Grelo Falante é falar da mulher, da liberdade que viemos conquistando de falar o que quisermos, de ter o corpo que quisermos, de comer o quanto a gente quiser. Falar com humor de assuntos pertinentes. Carmen Frenzel, Claudia Ventura e Lucília de Assis são divertidas, criativas, inteligentes, autênticas e… livres! Me senti representada. Quanta coisa fiquei pensando depois da peça: meninas criadas para casar virgem (eu!), a mulher que aborta sendo vista como criminosa, a mulher que amamenta sendo repudiada “porque o leite do peito não amamenta de verdade” (eu!), mulheres que acham que foram assediadas porque vestiam minissaia (de novo eu!) e por aí vai, um sem fim de machucados na alma que só quem sentiu entende.

E se você não sabe o que significa “grelo” e acha que é só um jogo de palavras parodiando a figura do grilo falante, porque o grelo não se cala, pesquise no dicionário. Pronto? Já imaginou então quanta coisa o grelo tem a gritar? “O Grelo em Obras” é uma ode ao feminismo. Assim como elas, gostaria de ter gritado ao invés de respondido “com educação” a todas as perguntas despropositadas que me foram feitas. Que sensação boa essa da liberdade!

“O Grelo em Obras” tem temporada de 4 a 19 de agosto, aos sábados e domingos e “Não Peça” fica em cartaz às segundas, nos dias 6, 13 e 20 de agosto, ambas peças acontecem às 20h30 no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto (Rua Humaitá, 163. Entrada pela Rua Visconde Silva s/n. Telefone 21 2535-3846). Ingressos: R$ 40 (inteira), R$ 20 (meia) e R$ 15 (lista amiga). Mais informações no facebook d’O Grelo Falante.

Crédito das fotos: Renato Mangolin, Luciana Mesquita e Alexandre Dacosta.

*As experiências contadas nesse post foram cortesias dos espetáculos.

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