O inferno de sensações de uma das grandes poetisas do século XX, a americana Sylvia Plath, ganha temporada no Rio. “Ilhada em mim” está em cartaz no Teatro Poeira, a partir das mãos da Companhia Estúdio Lusco-Fusco.

– Post escrito pela colaboradora Carolina Machado.

O casal Sylvia Plath (1932 – 1963) e Ted Hughes (1930 – 1998), dois expoentes da poesia contemporânea de língua inglesa, viveu uma paixão obsessiva. A jovem poetisa se matou deixando dois filhos e uma profícua obra composta por poemas, contos, crônicas, correspondência, diários e um único romance, “A Redoma de Vidro”, de onde tirei o seguinte trecho: “Imagino que eu deveria estar entusiasmada como a maioria das garotas, mas eu não conseguia me comover com nada. Me sentia calma e muito vazia, do jeito que o olho de um tornado deve se sentir, movendo-se pacatamente em meio ao turbilhão que o rodeia.”

Sylvia Plath se desnudou por completo em sua escrita. Sua obra recheada de tormentos internos, conflitos com as convenções sociais e o amor extremado pelo marido é transposta para o palco em “Ilhada em mim” com forte simbolismo visual. O ambiente de imersão sensorial onde o conflito se desenrola convida o espectador a participar. Funcionou! Mergulhei naquela explosão curta de falas, na luz, na dança dos atores, no vestuário lindo e toda aquela água esquecendo a vida lá fora. Em seus últimos meses de vida, Sylvia vive simultaneamente o extremo desespero e a liberação de uma energia criativa sem precedentes. É muita complexidade numa mulher só!

A dramaturgia de “Ilhada em Mim – Sylvia Plath” é de Gabriela Mellão inspirada especialmente a partir do livro “Ariel”, publicado postumamente pelo marido, onde a escritora expõe seu estado emocional à beira do precipício. O também aclamado poeta inglês foi o grande responsável pela divulgação da obra da esposa. Após um luto de 35 anos, ele lança o livro “Cartas de Aniversário” com poesias totalmente dedicadas à mulher, que aos 30 anos, poucos meses depois da separação do casal, deitou-se na cozinha e abriu o gás. Numa das poesias ele cita que “assistia a tudo feito uma mosca pousada do outro lado da vidraça/ do meu próprio drama familiar”.

Ted Hughes é interpretado por André Guerreiro Lopes (quem também assina a direção e a cenografia) e contracena com Djin Sganzerla (Sylvia Plath) num cenário que é um enorme espelho d´água que ocupa todo o palco. Sobre ele, objetos e personagens escorrem e se esvaem. “Ilhada em Mim – Sylvia Plath” já passou por outras cidades do Brasil e faz parte do repertório artístico da Lusco-Fusco, companhia paulistana de criação teatral e audiovisual, que explora a interseção de linguagens artísticas. Com direção artística de André Guerreiro Lopes e Djin Sganzerla, ambos atores dessa peça.

“Sei do que gosto, sei do que não gosto, mas não pergunte quem eu sou”, é um dos trechos recitados na peça que atraiu minha atenção como um ímã, me senti identificada pela força revolucionária dessa mulher ilhada em si e que pouco ao pouco vai isolando-se do mundo… O texto de Gabriela Mellão é bem traduzido cenicamente. Foram muitas as sensações que tive ao assistir este espetáculo dramaticamente intenso. É para quem gosta de poesia e de subjetividade. O que mais importa é que o espectador aprecie e desfrute de cada cena sem precisar compreender nada. Esse era o intuito da Cia Lusco-Fusco, que gostei de conhecer! A partir de 20/6, a companhia também apresentará no CCBB Rio seu mais recente espetáculo, “Tchekhov é um Cogumelo”. Estarei lá, pois estou cada dia mais apaixonada pelo teatro!

A poética de Sylvia, recheada de impulsos de criação e destruição é plena de vida. Quem nunca leu vai ficar com vontade de conhecer. O espetáculo com certeza incentiva a leitura da poetisa. Com temporada de 03/05 a 10/06,  “Ilhada em Mim – Sylvia Plath” está no Teatro Poeira (Rua São João Batista, 104, Botafogo). De quinta a sábado, às 21h, e domingo, às 19h. Os ingressos custam R$ 60 inteira e R$ 30 meia na bilheteria (funciona de terça a sábado, de 15h às 21h; e domingo, de 15h às 19h) ou online.

*A experiência contada nesse post foi uma cortesia do espetáculo. Crédito das fotos: Jennifer Glass.


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