Você não precisa ser mãe para assistir “Eu, Mãe”! Não é preciso ser mãe para amar essa peça, se emocionar e voltar a se apaixonar por seu parceiro (se tiver), seus pais, seus avós e seus irmãos. A meu ver esse monólogo fala de vínculos, de afetos e de como é importante conviver para criar laços que perdurem. Um dos espetáculos que mais me tocaram o coração nos últimos tempos. Fui desavisada, assoviando sol lá si dó, e saí arrebatada por essa peça que é o suprassumo do amor.

O tema é maternidade porque o que a atriz Cristina Fagundes, mãe recente de duas filhas, de 3 e 5 anos, pretende, é gravar uma declaração de amor às meninas, como um documento histórico salvo sabe-se lá em que mídia do futuro.

Daí você já sabe o que virá, um baita texto poderoso e doce,  porque o maior amor que existe, dizem, é o materno. Uma mensagem para as filhas, vinda de uma mulher de 43 anos, dona de si, íntegra, feliz profissionalmente e plena de amor ao redor.

Dramaturgia arrebatadora da própria atriz em cena, é claro, que divide a direção do monólogo com Alexandre Barros e Daniel Leuback. É preciso coragem para se expor, pois aqui não trata-se de auto-ficção, mas de autobiografia pura e simples, num recorte dessa parte intensa da vida, a tempestade de emoções que é ser mãe.

Também sou mãe de uma criança de 3 anos e portanto vivencio todo dia (não há trégua) esse mix de sensações. Mas também fiquei tocada pela história por ser filha, neta, irmã, esposa. Quantos papéis temos e quantos eus vamos perdendo ao longo da vida, somos mesmo metamorfose ambulante (já dizia Raul Seixas). Cristina aborda também temas como amadurecimento, envelhecimento e passagem do tempo com muita entrega e graça. A gente chora, a gente dá gargalhada.

Utilizando a cozinha do casario, como cozinha mesmo, Cristina Fagundes nos recebe para um chá ou um café (como preferir!) para falar de amor. Ao longo da peça ela se dirige às meninas, do outro lado da tela do celular grava na íntegra (lembre-se que tudo está sendo registrado na câmara e dedicado às filhas), ao mesmo tempo em que compartilha com o público suas experiências pessoais e reflexões de mulher e mãe.

Abrir o coração, assim de verdade, não é fácil. Lembro da primeira vez que fui à terapia, da minha ansiedade na sala de espera querendo tanto estar no consultório do dentista e não do psicólogo! A coragem de se expor! Longe de ser mais uma peça sobre as dores e as delícias de ser mãe, Cristina vai além dos clichês e aborda com delicadeza e humor outras reflexões profundas e em todas as renúncias que implicam nossas escolhas. Como não se identificar? #toca aqui, colega!

“É um espetáculo sobre maternidade, mas é também sobre amor, expectativas, do que esperamos da vida e do que ela nos traz. De quem somos e do que buscamos. É uma radiografia de um dos momentos mais intensos da vida de uma pessoa, que é quando galgamos um novo patamar do ciclo da vida e deixamos de ser filhos para virarmos pais”, afirma a atriz indicada ao Prêmio Shell de Melhor Direção e também ao Prêmio Cesgranrio de Melhor Autora por seu espetáculo “A Vida ao Lado”, de 2018.

“Eu, mãe” é uma conversa do presente com o futuro. Numa das cenas a atriz-personagem diz: “Eu quero que vocês, possam, aí no futuro, me ver como eu sou hoje, no auge da saúde, da vitalidade. No auge da minha vida. E quero que assistam a essa gravação também quando tiverem 43 anos de idade cada uma, para que possamos por pelo menos uma vez na vida, num encontro único no tempo, ter a mesma idade. Eu queria ir caminhando junto com vocês, mas não posso, meu tempo é outro, eu vim primeiro. Então vamos fazer esse registro está bem? Esta cápsula do tempo.”

Cristina atua usando elementos cotidianos, cercada de objetos de sua vida real: fotos da família, desenhos de suas filhas. Ela se joga no ringue: o que se conta ali é real e absolutamente verdadeiro. Fiquei imaginando… ela é atriz, roteirista, exímia escritora, deve ter pensando em escrever algo para suas filhas, ficou tão incrivelmente bom que teve a ideia de transformar em arte e assim surgiu “Eu, mãe”, será? Após a peça ela disse que uma amiga a havia convidado para escrever sobre maternidade, antes de ela tornar-se mãe, então deu à luz e toda aquela novidade e efervescência foi sublimada num texto autoral. Não poderia ser diferente, afinal. Era preciso dar vazão a esse boom que é ser mãe (atualmente) e a todo esse amor descomunal.

Volto a dizer, esta não é uma peça exclusivamente sobre maternidade. É também sobre ser filha, ser neta e ser uma mulher sem filhos. É sobre o amor e também sobre laços e afinidades que se criam, é sobre amor próprio e auto-estima, é sobre autenticidade, de ser feliz e querer sê-lo.

“Eu, mãe” nos lembra da importância de dizer as coisas enquanto está em tempo. No velório do meu tio, minha prima, sua filha, comentou algo parecido em seu discurso ali no momento. Ela disse: estou tranquila, porque tudo que eu queria dizer pra ele, eu disse em vida. ”Eu, mãe” fala de gerações. Um amigo que perdeu o pai, de quem era muito apegado, me falou: perdi a referência. E minha sogra, aos prantos, quando perdeu a mãe, já bem velhinha e doente: mãe é mãe. Relacionar, sem ser artificial, exige intensidade.

Enquanto mãe, eu às vezes olho para o meu filho e penso: como é bem cuidado e bem vivido. E agradeço: obrigada, vida, eu nasci pra isso! Mas às vezes dá uma vontade de largar tudo e uma nostalgia do que era antes. “Eu, mãe” é gratidão, é identificação, é o suprassumo do amor. Homens e mulheres, sintam-se acolhidos!

“Eu, Mãe” estende temporada até 10/10/19 na Casa Rio (Rua São João Batista, 105 – Botafogo – 21 2148-6999) com sessões às quartas e quintas às 20h. Ingressos custam R$50 (inteira) e R$ 25 (meia) e podem ser adquiridos na bilheteria do teatro, que abre 1h antes do espetáculo, online ou por R$23,90 no site Rio no Teatro. O espetáculo dura 60 minutos.

Crédito das fotos: Renato Mangolin

*A experiência contada nesse post foi uma cortesia do espetáculo.

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