Cria da dupla Charles Möeller & Claudio Botelho, os “caras” do teatro musical, apaixonados pelo que fazem e impecáveis no ofício, “Cole Porter – Ele Nunca Disse Que me Amava” reestreia repaginado no Rio, 19 anos depois. No palco, Cole é apenas uma voz em off, sua história é contada a partir do olhar de seis mulheres extraordinárias e relevantes na vida do artista sucesso da Broadway.

Cole Porter, um dos grandes e mais sofisticados compositores americanos, não era um artista popular, mas teve seu nome correndo de boca em boca nas ruas do Rio de Janeiro. Era o ano 2000 e o musical apresentando sua vida e obra, acabara de estrear na cidade. O sucesso foi tão grande, que o espetáculo de Möeller & Botelho ficou quatro anos em cartaz, passando também por São Paulo e Lisboa!

Cínico, ácido, pícaro – assim era Cole Porter, o incrível compositor nascido em 1891 em berço de ouro, no interior dos Estados Unidos. Aprendeu a tocar violino aos seis anos, piano aos oito e aos dez já escrevia operetas. Se estivesse vivo, o músico completaria 128 anos este ano. 

Se você é de outra geração, como eu, e acha que não conhece nenhuma música dele, engana-se. É provável que em algum momento de sua vida, mesmo sem saber, você já tenha cantarolado algumas de suas centenas de composições. Aconteceu comigo, eu achava que conhecia Cole Porter só de nome, mas à medida que as canções iam sendo interpretadas no musical, eu as reconhecia e gostava.

“I’ve Got You Under my Skin” por exemplo, uma de suas criações que comprovam a maestria do poeta Cole  imortalizada na voz de Frank Sinatra. Aumenta o som e clica aqui para ouvir essa música enquanto termina de ler o post!

E que interpretações! Seis grandes atrizes compõem o elenco, todas são excelentes intérpretes. Stella Maria Rodrigues, por exemplo, quem faz o papel de Linda Porter, a mãe de Cole, que desde cedo quer fazer do filho um astro, goza de irresistível talento cômico. Ela, Alessandra Verney e Gottsha participaram da montagem anterior. E junto com elas ainda temos Malu Rodrigues, Analu Pimenta e Bel Lima. Três músicos apenas acompanham o vozeirão dessas seis beldades: Marcelo Castro (regência e piano), Omar Cavalheiro (contrabaixo e violão) e Marcio Romano (bateria e percussão).

Milionário, inteligente, sarcástico e dono de um estilo inconfundível. Este homem que criou os famosos musicais da Broadway, que até hoje são montados em todo o mundo, era conhecido, especialmente, pelas letras sofisticadas com duplo sentido, ritmos inteligentes e formas complexas. “Let’s do it, Let’s Fall in Love” é uma delas, com o trecho: “Birds do it, bees do it/ Even educated fleas do it/ Let’s do it, let’s fall in love”.

Durante o musical, há músicas cantadas em inglês e outras em português. Essa por exemplo, está em português, para que o público que não é fluente em inglês entenda a comicidade da letra. A versão brasileira é feita com primor por Cláudio Botelho. É dele também a voz em off de Cole Porter.

A canção que abre o espetáculo, e dá título a ele, também é cantada em português. Veja o trechinho de “The Physician” e comprove o fino humor e a malícia de suas letras: “He said my epidermis was darling/ And found my blood as blue as could be,/ He went through wild ecstatic/ When I showed him my lymphatics,/ But he never said he loved me” – Ele nunca disse que me amava.

Já quem assina a dramaturgia é Charles Möeller, montada a partir da biografia do astro, escrita por Charles Schwartz e traduzida para o português pelo jornalista João Máximo. Foi lendo este livro que Möeller percebeu a importância das mulheres na história de Cole. O interessante aqui é que a história apresentada no musical não se trata exatamente de um relato biográfico, mas sim da vida desse personagem glamouroso retratada a partir do olhar feminino! Seis mulheres importantes em sua vida falam de Cole, o “fanfarrão”: a mãe, a mulher, a colega atriz e cantora, a melhor amiga, a agente e a loira que faz a… Veja você mesmo! Dar spoiler nem pensar!

Sempre ao piano, farrista e bon vivant, Cole teve uma vida de cinema!  Seu primeiro sucesso foi em 1919 com “An old-fashioned garden”. Porém, antes disso, sua estreia na Broadway foi um fiasco e ele, extravagante e entusiasmado sempre, foi afogar as mágoas em Paris. Década de 20 na capital francesa, ali ele frequentou festas grandiosas na companhia de Picasso, James Joyce, Hemingway, Coco Chanel, Gertrude Stein… Os anos loucos de Paris, jovens buscando novas linguagens, novos conceitos.

Apaixonou-se pela cidade e foi muito bem recebido por ela, dedicou-lhe muitas canções, sendo “I Love Paris” a mais conhecida: “I love Paris in the spring time/ I love Paris in the fall/ I love Paris in the winter when it drizzles/ I love Paris in the summer when it sizzles”. O polêmico, mentiroso, fascinante Cole. Acontecia também a era de ouro de Hollywood. Assim que, depois de Paris, Cole retorna para conquistar a Broadway, o cinema, o rádio e as paradas.

O musical é uma grande festa! Tudo é esplendoroso: espetáculo descontraído, bem conduzido, elenco, música, figurino elegante de Marcelo Marques, visagismo de Beto Carramanhos, cenografia e pintura de arte do Le Arte Cenografia. O texto é uma delícia. Cada mulher conta a história de um jeito, isso é o mais divertido, elas não se repetem. “Cole Porter – Ele Nunca Disse Que me Amava” fala de sentimento, e não de biografia necessariamente datada.

Cole Porter, personagem rico, divertido e trágico. Posso dizer que foi muito bem representado. As sessões estão lotando, me senti na Broadway, sem exageros, foi um programaço! Saí de lá com a noite ganha e muito feliz em saber que este espetáculo está levando a genialidade de Cole para mais lugares e pessoas. Apresentá-lo a quem não sabia nada sobre sua vida (como eu, por exemplo), uma vida tão fértil, um personagem tão presumido e ao mesmo tempo adorável! E também alegrar os seus nostálgicos fãs. Celebremos suas criações que atravessaram os séculos!

Se Cole Porter estivesse vivo e pudesse ver esta homenagem, acredito que diria a Möeller, Botelho, mulheres em cena e todos os responsáveis pelo espetáculo, a frase de uma de suas mais famosas canções: “You’re the top”!

O musical “Cole Porter – Ele Nunca Disse Que Me Amava” está no Theatro Net Rio (Rua Siqueira Campos 143, Copacabana – 21 2147-8060) com temporada de 15/03 a 28/04, sextas 20h, sábados 21h e domingos 17h. Dura 100 minutos e tem intervalo de 15 minutos. Ingressos custam de R$ 25 a R$ 180 e podem ser comprados na bilheteria do teatro ou pelo site Ingresso Rápido. Clientes NET pagam meia. Mais informações no Facebook da peça.

Crédito das fotos: Daniel Coelho

 *A experiência contada nesse post foi uma cortesia do espetáculo.

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