Segunda parte de uma trilogia, a montagem brasileira do original inglês “Bane”, “Billdog 2” traz um frio matador de aluguel em crise existencial após falhar num serviço. O diferencial é a versatilidade e trabalho físico do ator, que derrama suor no palco interpretando mais de 40 personagens, incluindo sons e bichos, e assim transporta o público para as páginas de uma história em quadrinhos noir.

O que mais me tocou na narrativa, é um paradoxo, o lado humano de personagens embrutecidos, como são os mercenários, que aqui se deslocam numa cidade meio Gotham City, obscura, sem lei, violenta. Eles têm sonhos, e salta à cena refletir o que esses criminosos poderiam ter sido. O amigo de infância de Billdog sonha com uma casa de cerquinha branca, mulher, filhos, mas acaba como bandido de meia tigela. E o próprio protagonista queria ser um rockstar. Como terá se tornado assassino? É alentador pensar que todos temos sonhos, por outro lado é triste, já que muitas vezes a vida nos desvia de alcançá-los.

“Billdog 2 – O monstro dentro dele” traz um assassino de aluguel, interpretado por  Gustavo Rodrigues, acossado por questões existenciais após falhar numa missão. Ele começa a ter pesadelos e acaba no consultório de um psiquiatra, o Dr. Purum Fuki, ponto cômico da peça que desencadeia sonhos contagiantes! Em cena, o ator é acompanhado do músico Tauã de Lorena, quem assina a direção musical e executa, ao vivo, a trilha sonora original composta por Ben Roe, trazendo alma latina à adaptação da obra londrina de Joe Bone e dando toques de graça à história.

Na trama, Gustavo interpreta não só o anti-herói que dá nome à peça, mas todos os 46 personagens movendo-se por uma cidade fictícia repleta de mafiosos, um monstro perigoso e lixo tóxico. Bem atual se pensarmos que há mais de um mês, os cariocas têm precisado comprar água mineral devido à contaminação do Ghandu, rio que abastece de água a capital do Rio de Janeiro e várias cidades da Baixada Fluminense.

Gustavo Rodrigues é o cúmulo da versatilidade, nunca vi nada igual. Além de interpretar tantos personagens em cena, ele faz toda a sonoplastia do espetáculo, o som dos carros, do isqueiro acendendo o cigarro, portas rangendo, o relinchar dos cavalos e até gatos soprando quando se sentem ameaçados. Também achei interessante a forma como os flashbacks são incorporados na atuação e o cenário todo nele e no fantasiar da plateia! De tirar o fôlego. Se durasse mais do que 65 min, desmontaria cada um para um lado, ator e espectadores.

Um ator completo: traduz, idealiza, versátil à beça, canta, toca, faz imitações primorosas, um fenômeno! Gustavo, que também é produtor e diretor, completa este ano 20 anos de carreira como ator.  Ele conta como descobriu o espetáculo “Bane” durante uma viagem a Londres. Havia ido ver uma peça do Gerald Thomas que estava lotada quando a bilheteira lhe indicou ‘Bane’, em cartaz num teatro do outro lado da cidade. Chegando lá, sessão lotada, mas ele esperou uma desistência e conseguiu assistir. “Esperei o Joe para cumprimentá-lo no final. Ainda não tinha a ideia de montar o espetáculo, mas trocamos contatos”. Quando se reencontraram dias depois no National Theatre, Gustavo fez a proposta de adaptar a peça. “Não tinha dinheiro para comprar os direitos, mas Joe estava muito interessado em conhecer o Brasil, então, o chamei para ficar na minha casa e vir para a estreia”.

“Certamente Billdog é mais bonito que o Bane” – brinca Joe Bone, que consta no Guinness Book com o recorde de “maior número de personagens interpretados por um ator em uma mesma produção teatral”. O autor de “Bane”, peça em que também atuou, diz que Gustavo “adicionou elementos para sua versão que nem mesmo eu arriscaria, tornando a obra totalmente sua”.

A parceria teve tanto êxito que os dois dirigem juntos “Billdog”, enquanto Guilherme Leme Garcia assina a supervisão artística. Figurino é de Reinaldo Patrício, iluminação de Aurélio de Simone; e no elenco participa também Guiga Fonseca.

“Billdog” estreou em 2012 no Teatro Café Pequeno, no Rio de Janeiro. Durante os cinco anos em que a peça ficou em cartaz, foram mais de 350 apresentações em 45 teatros, entre Rio, São Paulo e Rio Grande do Sul, além da participação no Festival Tréteaux du Maroni (Guiana Francesa) e entre 3 e 26 de julho de 2020 estará no Festival de Avignon na França.

Já que Bane e Gustavo são incansáveis e mostraram que aguentam o tranco, ficamos no aguardo de Billdog 3.

“Billdog 2 – O monstro dentro dele” está com temporada até 01/03/20, com sessões de quarta a domingo, sempre às 19h30 no Teatro III do CCBB Rio (Rua Primeiro de Março, 66 – Centro. Tel. 21 38082020). Ingressos custam R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia) e podem ser adquiridos na bilheteria do CCBB. Sugiro comprar os ingressos com antecedência porque o teatro é pequeno (capacidade 86 lugares) e as sessões estão enchendo. Duração: 65 min. Mais infos pelo Facebook ou Instagram do espetáculo. Sim, haverá sessões no Carnaval!

Crédito das fotos: Guarim de Lorena

*A experiência contada nesse post foi uma cortesia do evento.

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