Uma peça surpreendente, que discorre sobre relações humanas que envolvem sentimentos e sensações obscuras. Obra do ator canadense Michel Marc Bouchard, “Tom na Fazenda” foi traduzida por Armando Babaioff, que também atua na peça. Em cartaz desde 2017, o espetáculo é sucesso de crítica e já venceu diversas categorias de importantes prêmios de artes cênicas.
“Tom na Fazenda” é tão marcante que fica até difícil descrever… Nas duas horas da peça, é impossível tirar os olhos dos atores, mesmo que algumas cenas causem desconforto. A história se passa em uma fazenda erma e afastada, onde Tom chega para o funeral de seu namorado, que morreu aos 20 e poucos anos de forma repentina. Tom vem da capital, é um homem fino, bem sucedido, elegante.
É nessa ocasião que ele conhece a mãe e o irmão de seu companheiro. Só então, se dá conta que a sogra não sabia de sua existência, nem mesmo imaginava que o filho era gay! Além disso, o cunhado de Tom inventou uma namorada fictícia para seu irmão, assim a mãe não precisaria saber a verdade sobre a sexualidade do filho. A trama se desenrola de forma muito tensa, já que os personagens criam uma relação que não tem nada de agradável, mas rapidamente se estabelece uma dependência de todos os lados. Por consequência, Tom acaba ficando na fazenda bem mais tempo do que o planejado inicialmente.
O ambiente rural torna-se austero e perigoso. No palco, os atores contracenam num cenário de pouquíssimos itens. Apenas alguns baldes e o chão, que vai ficando cada vez mais sujo, compõem o local onde “Tom na Fazenda” acontece. Porém, algumas informações extras sobre o cenário são introduzidas no texto, deixando o espectador imaginar o que não está diante dos olhos. Na maior parte do tempo, Tom, a mãe e o irmão dividem o palco. As cenas são extremamente fortes, há violência e a plateia se sente quase participando.
Difícil não pensar sobre a enorme doação que é necessária de um ator para fazer um papel desses ao vivo (e sem sair do palco) por tanto tempo. De fato, admirável! “Tom na Fazenda” é uma peça que gera reflexão, traz questionamentos para a mente de quem assiste. Não apenas sobre o preconceito em relação ao homossexualismo, que é o tema mais evidente. Mas também sobre as grandes dificuldades do ser humano em lidar com situações adversas – a impotência, o preconceito, a violência, o fracasso – muitas vezes agindo de forma contraditória ou recebendo o que é dado sem capacidade de crítica.
Armando Babaioff, idealizador do espetáculo, conta que, ao conhecer o texto “Tom na Fazenda”, ficou fascinado pela forma como ela aborda assuntos que precisam ser falados. Ele ressalta o fato de que o Brasil é o país onde há mais casos de mortes por ataques a homossexuais, mais até do que em países do Oriente Médio e África, onde existe pena de morte aos gays. Assim, ele decidiu traduzir e trazer para o Brasil o texto do premiado autor canadense Michel Marc Bouchard, dramaturgo com mais de 25 peças traduzidas para diversas línguas. Bouchard também tem obras adaptadas para o cinema, como é o caso de “Tom na Fazenda”, que virou filme em 2013. O suspense psicológico foi dirigido e protagonizado por Xavier Dolan.
Dirigida por Rodrigo Portella (premiado diretor de “Antes da Chuva”, “Nerium Park”, “As Crianças”, “Os Impostores”, “Insetos”, entre outros), “Tom na Fazenda” tem as intensas interpretações de Armando Babaioff (Tom), Soraya Ravenle (Ágata, interpretada anteriormente por Kelzy Ecard), Gustavo Vaz (Francis) e Camila Nhary (Sara). E apesar da história ser um drama, suspense e thriller psicológico, há momentos de riso contagiante.
“Tom na Fazenda” estreou em março de 2017, no Oi Futuro. Desde então não parou de reestrear, passando por diversos teatros do Rio de Janeiro e de outras cidades. Sempre com sessões lotadas, já foi visto por mais de 25 mil pessoas! O espetáculo traz consigo prêmios da Associação de Críticos de Teatro de Québec, Cesgranrio, Shell, APTR, Botequim Cultural, Questão de Crítica e Cenym. E em 2020, vai circular pelo Canadá, Estados Unidos e França.
É uma peça tensa, mas ao mesmo tempo é bonita, faz sentido e acrescenta. Quanta potência, quanta dor, quanta angústia, especialmente quando os dois homens se enfrentam. Que belo trabalho e entrega de Babaioff e Gustavo Vaz! Encenação impecável, luz, cenário, direção. Cenografia de Aurora dos Campos, iluminação de Tomás Ribas, figurino por Bruno Perlatto e coreografia exuberante e comovente por Toni Rodrigues. Bravo!
Atualmente, “Tom na Fazenda” está em cartaz no no Teatro Petra Gold – Sala Marília Pêra (Rua Conde de Bernadotte 26, Leblon). Apenas até 16/02, de sexta a domingo, às 19h30. Ingressos custam R$ 70 (sexta e sábado) e R$ 80 (domingo) e podem ser adquiridos na bilheteria do teatro ou online. Classificação etária: 18 anos. Mais informações no Facebook e Instagram da peça.
Crédito das fotos: Lenise Pinheiro
- Post escrito pela autora do blog Juliana Goulart, que assistiu em outubro de 2017, e atualizado pela colaboradora Carolina Machado, que assistiu em fevereiro de 2020.
*As experiências foram cortesias do espetáculo.
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