Bem-vindos ao mundo sensorial de uma princesa cega, um príncipe rebelde e dois reis graciosíssimos! Opereta é um gênero de ópera curta, leve e geralmente cômica, com partes cantadas e faladas. Iolanta é dirigida por Daniel Herz e foi inspirada na ópera “Yolanta”, de Tchaikovsky. Diretamente da Rússia para a Serra dos Órgãos, um espetáculo audacioso!
- Post escrito pela colaboradora Carolina Machado.
Estive no teatro no fim de semana de estreia de “Iolanta”, acompanhada de um menino e uma menina de 5 anos, no meio de uma plateia repleta de gente interessada. As crianças morreram de rir com o rei da família D’Além, fazendo coro com o público. Aliás, os dois reis, tanto o de Borgonhópolis quanto o de Provenzópolis, são tétricos! Eu, particularmente, me apaixonei à primeira vista pelo cenário maravilhoso – assinado por Glauco Bernardi – e pelo encantamento já inerente por estar no teatro vendo os movimentos minuciosos dos atores no palco, ainda mais cristalinos, sob a direção de Daniel Herz.
Iolanta é uma princesa e enxerga o mundo sem os olhos. Ela toca, sente, cuida, conversa com a natureza. Está cercada pelo canto de pássaros e perfume de rosas. Isso fascina Florian, príncipe de outro reino. Além de sua alegria, ela tem uma visão diferente de mundo (me perdoem o trocadilho!), que cativa seu futuro amor. Os dois ainda não se conhecem, mas estão prometidos. Será que serão unidos por vontade e destino?
Iolanta não sabe que é cega. Seu pai superprotetor, o rei da família D’´´Aquém, a isola num campo fora do reino e ela é criada sem saber dessa deficiência. A princesa está prometida em casamento, já que há um pacto entre dois reinos. Fato que deverá ser consumado quando ela fizer 16 anos.
Inspirada na obra “Yolanta” do compositor clássico russo Pyotr Ilyich Tchaikovsky (1840-1893), a peça em cartaz no CCBB foi abrasileirada e trazida da Rússia para a Serra dos Órgãos – RJ. O subtítulo é uma referência ao apelido dado a Tchaikovsky por sua babá, que costumava chamá-lo de “menino de vidro”, por ter sido um menino frágil e sensível.
A dramaturgia de “Iolanta – A princesa de vidro” foi escrita a quatro mãos por Ana Paula Secco e Vanessa Dantas, esta última também idealizadora da peça. Vanessa soma 30 indicações entre as principais premiações de teatro infantil do Rio.
Na ópera original, a história se passa no século XV, nas montanhas do sul da França. Nesta adaptação ganha contornos brasileiros, sendo ambientada no período colonial na região da Serra do Órgãos, no Rio de Janeiro. Os reinos de Borgonhópolis e Provenzópolis foram inspirados nas cidades de Petrópolis e de Teresópolis, respectivamente. O Parnaso é a riquíssima e fértil terra situada entre os dois reinos, disputada pelas famílias reais D’Aquém e D’Além – de onde vêm, respectivamente, os jovens Iolanta e Florian. Não disse que era ousado?
O elenco é composto por nove atores: Caio Passos, Chiara Santoro, Kiko do Valle, Leandro Castilho, Mariah Viamonte, Marino Rocha, Saulo Vignoli, Sofia Viamonte e Tiago Herz, que acompanhados pelo músico Pedro Izar, tocam diversos instrumentos como violão, violino, violoncelo, flauta, flautim, trompete, acordeão e piano.
Desfrute da música! A direção musical, letras e adaptacão musical é de Wladimir Pinheiro. O espetáculo explora as mais consagradas obras de Tchaikovsky: os balés “A bela adormecida”, “O quebra-nozes” e “O lago dos cisnes”, além de temas das sinfonias nº 5 e nº 6 e de concertos. “Fizemos uma grande revista da obra do compositor russo. São temas conhecidos, já abordados no cinema e em desenhos animados. As pessoas vão reconhecê-los e se surpreender pela forma como foram usados no enredo”, diz Wladimir. Na transposição da história para o Brasil, a modinha imperial foi escolhida como tema musical.
O cenário criado por Glauco Bernardi foi inspirado nas arquiteturas francesa e italiana do século XIX e no artesanato da cultura popular russa do mesmo período. Há também no palco um robusto realejo.
Segundo o diretor, Daniel Herz, “a peça traz a ideia de que na diferença você tem a possibilidade de um encantamento amoroso. É na singularidade do outro que você percebe uma outra percepção da vida, possibilitando a paixão (…) O que faz o Florian se apaixonar por Iolanta não é o fato de ela ser cega. Mas a consequência de ela ser cega traz uma sensibilidade, uma percepção diferente sobre a existência, algo que ele não tem”. Bonito, não?
O Vida Carioca já esteve em outro espetáculo do diretor, Cálculo Ilógico. Também já escrevi aqui sobre Thomas e as Mil e Uma Invenções, peça escrita pela Vanessa Dantas e com cenário do Glauco Bernardi.
Créditos das fotos: Caique Cunha/Studio Rico (studio) e Guilherme Fernandes (palco)
“Iolanta – A princesa de vidro” está em cartaz de 22/01 a 13/03/22, sábados e domingos, às 16h, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) – Teatro II (Rua Primeiro de Março, 66 – Centro – RJ. Tel. 21 3808-2020). Ingressos custam R$30 (inteira) e R$ 15,00 (meia) e podem ser adquiridos na bilheteria do teatro (de quarta a segunda, das 9h às 20h) ou pelo site do Eventim, aqui. Classificação livre e duração de 80 min.
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