“Piquenique” é uma fábula bem temperada encenada numa mesa de jardim. As crianças são apresentadas a temperos como alecrim, tomilho, manjericão, açafrão, páprica, gengibre e pimentas, despertando para os sabores das comidas frescas em oposição aos agrotóxicos e enlatados, venenos de fácil acesso. Tudo muito caprichado e envolvido por cenário e figurino vivos. A mensagem que se leva é linda e motivadora! Deu água na boca?
Post escrito pela colaboradora Carolina Machado.
A dramaturgia de Marcéli Torquato e Flavio Souza, baseada em contos populares, traz uma protagonista feminina, corajosa e com talento extraordinário para as panelas. Feito por Greta, o pão de alecrim assado no forno exala um cheiro que não deixa ninguém indiferente. A menina ama cozinhar, talento herdado de gerações, e o sabor dos temperos usados em sua deliciosa culinária espalham alegria e aguçam para a mágica das combinações na cozinha.
Comer comida de verdade é um prazer, porém as especiarias e tudo que vem da terra estão desaparecendo naquele reino fantástico por culpa de um tirano, dono de uma fábrica de canhões. O vilão amedronta a todo mundo, menos à astuciosa Greta, que vai, mesmo com medo, atrás dessa misteriosa e assustadora figura para descobrir o porquê do sumiço das hortaliças essenciais ao prazer de sua sua boa mesa. E assim, a pequena decidida e dona do seu nariz vai enfrentar as mazelas do mundo em busca de justiça para todos.
À mesa, montada com copos, talheres, frutas, cores e comidas, o casal de atores Carolina Pismel e Paulo Verlings, dá asas à imaginação das crianças. Ao longo da história elas vão descobrindo que os alimentos precisam de água limpa, terra boa, sol, vento, que abelhas, vespas, borboletas, pássaros e morcegos, contribuem para a fertilização na natureza. E não é que as pessoas também precisam ser temperadas? Ainda que com outros tipos de ingredientes…
“Piquenique” passa um respiro, uma mensagem pura de um mundo ideal, por que não? Um mundo onde as pessoas se ajudam, convivendo inteiramente, vivem bem. Enfrentando o cinza dos canhões, Greta defende a florescência da natureza. Tudo se conecta. O músico Raoní Costa divide a cena com os atores e o zumbido das abelhas.
Dirigido pelo diretor e doutor em teatro Flavio Souza, o espetáculo tem um caráter extremamente visual, buscando a criação de um universo lúdico, atrativo ao público infantil. Meu filho de 3 anos ficou absolutamente envolvido e foi hilário ele contando da peça para o pai depois. Ele adorou os personagens atrapalhados feito pelo Paulo. Entendeu à sua maneira e ficou marcado pelo frescor das hortaliças verdes que crescem nas hortas (e sem agrotóxicos, por favor!).
“Piquenique” também nos motiva a ser agentes de nossa própria história, não aceitando passivamente a tudo que se impõe de forma rude à nossa frente. Segundo a atriz Carolina, o lugar do imaginário e as imagens criativas contribuem de forma potente para o crescimento de pessoas mais disponíveis para a paz do que para a guerra. “Acreditamos que somente adquirindo cultura de qualidade, nossos jovens e crianças poderão desenvolver uma sensibilidade capaz de ajudá-los a despertar uma consciência mais humanitária, assim como seu interesse para uma visão mais analítica de mundo”. Por isso, eu sempre digo: vá ao teatro. Que lugar potente!
O cenário de se comer com os olhos é de Mina Quental e Flavio Souza. Iluminação de Luiz Paulo Nenem e o figurino lindíssimo, também do Flavio Souza, multi-talentos pelo visto, ele é o diretor de “Piquenique”. Mágica em cena e no fogão! Marcéli Torquato também é autora do espetáculo “Saia” (leia nossa crítica aqui).
“Piquenique” é um espetáculo muito rico, vibrante e visualmente lindo. Tudo é subjetividade, afinal, o que é temperado e feito com amor é mais gostoso. Assim como nas receitas… sal a gosto.
“Piquenique” integra as comemorações de aniversário de 30 anos do CCBB. Em breve escreverei aqui sobre o festival 30 anos de Cia. que anda acontecendo por lá. Aproveite sua ida ao CCBB para ver a exposição “Raiz”, do artista plástico chinês Ai Weywey em cartaz até 04/11/19.
O espetáculo infantil “Piquenique” tem curta temporada no CCBB Rio – Centro Cultural Banco do Brasil (Rua Primeiro de Março, 66, Centro – 21 3808-2020) no Teatro III, de 1º a 29 de setembro de 2019, aos sábados e domingos em sessões duplas, às 15h e às 17h. Ingressos custam R$30 (inteira) / R$15 (meia) e podem ser adquiridos na bilheteria do CCBB (de quarta a segunda das 9h às 21h) ou online. Informe-se sobre ingresso família! Duração de apenas 50 minutos que passam voando. Mais infos no Facebook da peça.
Crédito das fotos: Elisa Mendes
*A experiência contada nesse post foi uma cortesia do espetáculo.
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