Assim como grande parte dos brasileiros, eu nunca havia me envolvido tanto em eleições como agora. Foi um período complexo que me trouxe várias reflexões – repensei meu papel como pessoa, como mulher, como cidadã, como comunicadora. Acredito que essas eleições marcantes trouxeram aprendizados que podemos levar para a vida, com o objetivo de construir uma sociedade melhor para todos.

Foi um mês e meio falando sobre política através de redes sociais pessoais, no meu perfil profissional do Instagram (@vida_carioca), inúmeras conversas ao vivo, por telefone e online com pessoas próximas e também com desconhecidos. Foi a primeira vez que me posicionei de forma explícita, que abri meu voto publicamente. Dada a complexidade dessas eleições, decidi expor minha opinião política, mas não sem antes ponderar diversos pontos e me informar bastante. Saí das eleições satisfeita com meu posicionamento e decidi compartilhar, num texto que tem objetivo de ser apartidário, algumas reflexões que considero pertinentes.

  • É muito importante votar

Votar é um direito e um dever do cidadão. Porém, a multa para quem deixa de votar é de apenas R$ 3,51. Também é constitucional votar nulo ou branco. Muita gente, por não se identificar com candidato algum, acha que essa é uma boa saída para se isentar. Mas não é… Pois de qualquer forma, um dos candidatos será eleito! Se você deixa de votar, passa a dar aos outros o seu poder de decisão, é como se as outras pessoas fizessem uma escolha por você. Apenas os votos válidos são computados para definir quem ganha a eleição (ou seja, ganha quem consegue 50% + 1 dos votos válidos), portanto cada pessoa que deixa de votar torna mais “fortes” os votos de quem escolhe um dos candidatos.

Explicando com números: num universo de 100 votantes, cada voto representaria 1%. Se 30 dessas pessoas deixassem de votar porque não compareceram ou escolheram nulo/branco, apenas 70 votos seriam válidos. Ou seja, 100% dos votos válidos corresponderia a 70 votos. Assim, cada voto passaria a valer 1,42%. Parece injusto, né? Algumas pessoas simplesmente não opinam e a opinião de outras tem peso maior! Pois foi isso que aconteceu na eleição presidencial de 2018, quando a quantidade de abstenções, nulos e brancos chegou a quase 30%.

Veja só os números absolutos e percentuais das eleições:
Total de eleitores – 147 milhões (100%)
1º lugar – Jair Bolsonaro – 57,7 milhões de votos – 39,2% do total / 55,1% dos votos válidos
2º lugar – Fernando Haddad – 47 milhões de votos – 32% do total / 44,9% dos votos válidos
Abstenções – 31,3 milhões de votos – 21,3% do total
Nulos – 8,6 milhões de votos – 5,8% do total
Brancos – 2,4 milhões de votos – 1,6% do total
Não válidos (abstenções + brancos + nulos) – 42,3 milhões de votos – 28,8% do total
Ou seja: a diferença entre os dois candidatos foi de 10,7 milhões de votos. O total de votos não válidos foi de 42,3 milhões. Deu para entender o quanto seu voto é importante?

Não deixe de votar. Para isso, se organize. Se você mudou de cidade, peça a transferência do título com bastante antecedência. Nesse ano, o prazo para transferir terminou em maio, enquanto o prazo para solicitar voto em trânsito terminou em agosto. Portanto, quem deixa isso para a última hora não consegue! Quando eu transferi meu título de eleitor para o Rio, o fiz fora do período eleitoral e foi muito simples e rápido. Além do que, esse serviço é gratuito.

Então, se você mudar de cidade, já coloque isso como prioridade! Se você não conseguir transferir o título, faça o possível para ir até o local onde vota. Compre passagem com antecedência, parcele, vá de ônibus, de carro, de carona. Caso precise escolher um dos turnos, vá no segundo, que é o decisivo. Mas só deixe de votar em último caso, tá? Tenha em mente que é realmente muito importante!

  • Precisamos parar de divulgar o que não gostamos

O Brasil é o país que mais utiliza redes sociais e mais gosta de memes. A criatividade para piadas e a capacidade de viralização de assuntos polêmicos são enormes e é difícil não se envolver com isso. Porém, ao compartilhar algo que envolve um político e à primeira vista é apenas engraçado, estamos fazendo publicidade gratuita para ele.

Um bom exemplo disso nessas eleições é o Cabo Daciolo. Quase ninguém o conhecia até o primeiro debate, quando ele chegou com um discurso que beirava o surreal, dando declarações que mais pareciam brincadeiras. No dia seguinte, trechos de suas falas e memes com seu rosto e suas frases ganharam a internet e isso continuou acontecendo nas próximas semanas. Realmente era muito engraçado, eu ri demais com coisas como Ursal e meditação nos montes em plena campanha!

Resultado: Daciolo recebeu mais de 1,3 milhão de votos no primeiro turno, ficando na frente de Marina Silva e Henrique Meirelles. Sem experiência na vida política e com investimento de menos de R$ 10 mil em sua campanha, ele conseguiu passar de zero a 1,3 milhão de votos em poucas semanas – já pensou se continua assim nos próximos anos? Parece até ridículo falar isso agora, mas há anos atrás Bolsonaro ganhou projeção através de brincadeiras, inclusive um quadro do programa CQC em 2011, onde deu algumas declarações polêmicas que foram tratadas como piadas pelos apresentadores.

Da mesma forma, quando vemos algo que não concordamos, temos a tendência de compartilhar para mostrar aos outros que aquilo é errado. Só que assim também estamos divulgando para pessoas que não tem a mesma percepção que a gente! Como exemplos dessas eleições, vou citar dois casos. Um candidato a deputado estadual no Rio de Janeiro gerou revolta ao aparecer numa foto segurando uma placa de Marielle Franco quebrada. A foto foi tirada quatro dias antes da eleição. Aquilo era de fato revoltante, me senti muito mal ao ver. Muita gente compartilhou a imagem com o intuito de criticar sua atitude!

Resultado: era pouco conhecido e foi eleito deputado estadual com o maior número de votos do RJ, 140 mil. Por que isso aconteceu? Provavelmente porque sua foto viralizou, compartilhada por quem não concordou com a atitude, mas assim o tornou conhecido e atingiu também pessoas que talvez tenham achado que ele merecia seus votos.

Outra polêmica foi a declaração da atriz Regina Duarte, uma das poucas artistas com fama nacional que apoiou abertamente Bolsonaro. Às vésperas do segundo turno, foi divulgada sua entrevista dizendo que a homofobia do candidato era só da boca para fora e suas falas são brincadeiras de homem no estilo machão. A matéria viralizou, sendo compartilhada na maior parte por outras mulheres perplexas com a opinião, algumas fizeram textos explicando noções de feminismo e porque consideram um desserviço a atriz falar essas coisas! Eu fiquei chocada com ela, achei inacreditável sua postura.

Resultado: Regina Duarte ganhou 300 mil seguidores no Instagram. Imagine quantas pessoas ela influenciou a votar no candidato ao ter sua entrevista impulsionada por pessoas que não concordam com o que ela disse, que compartilharam apenas para expressar sua insatisfação…

Deu para entender o meu ponto? Sei que a vontade de espalhar essas notícias é enorme, também me sinto assim. Porém, quando divulgamos algo com o qual não concordamos, isso atinge também pessoas que pensam diferente de nós, que têm outra percepção das coisas – e não importa se você tem uma rede social com milhões de seguidores ou apenas com seus amigos e familiares, certamente há pessoas com percepções e opiniões diferentes das suas.

Aí, quando se trata de política, você acaba fazendo divulgação gratuita para alguém que você considera apenas uma piada (como no caso do Cabo Daciolo) ou para alguém que faz algo que você considera muito errado (como no caso do deputado que quebrou a placa) ou alguém que tem opinião contrária a sua (como no caso da Regina Duarte). Então, vamos tentar parar de falar do que não gostamos? Ao invés disso, vamos compartilhar informações interessantes e positivas?! E não apenas no período eleitoral, mas sempre!

  • Precisamos conversar com pessoas que têm menos acesso à informação do que a gente

Um movimento inédito dessas eleições foi o “Vira Voto”, no qual muitas pessoas se propuseram a conversar com conhecidos e desconhecidos no intuito de explicar mais sobre os candidatos e o cenário político e conseguir, com argumentos racionais, votos para Haddad. O movimento ganhou força com a participação de diversos artistas, que foram para praças, ruas e espaços públicos se oferecer para conversar com os indecisos. Relatos de votos virados demonstravam que muitas pessoas desconheciam informações básicas sobre os dois candidatos, não tinham ideia de sua experiência na vida política nem de seus planos de governo. Com calma e dados reais, as conversas foram bastante produtivas.

Eu mesma vivi essa experiência ao conversar com dois porteiros do meu prédio. Ambos me disseram estar indecisos. O primeiro dizia não se sentir representado por nenhum dos dois candidatos, então eu expliquei sobre a questão de votar nulo e deixar que os outros decidam por nós. Também falei sobre questões trabalhistas e relacionadas a minorias. Ele logo se decidiu por Haddad.

Já o segundo porteiro me contou que não assiste televisão e só soube quem era Bolsonaro na ocasião da facada. Contei para ele algumas falas do candidato que foram amplamente divulgadas na mídia, mas ele não sabia (ficou muito impressionado com as declarações que citei). Conversamos sobre a questão de armar a população e como isso pode aumentar a violência ao invés de diminuir. Falei que Haddad é professor, mais uma informação que ele não tinha, e então ele se decidiu. Uma amiga me contou que conversou com o garçom do bar que frequenta e ele não sabia o significado de democracia.

Em todos esses casos, bastaram alguns minutos e o compartilhamento de informações reais, com o cuidado de se certificar que a outra pessoa realmente entendeu o que estamos querendo dizer! Algo que percebi muito nessa época eleitoral foi uma grande dificuldade de interpretação de textos, mesmo em pessoas com bastante instrução. Acredito que se deve aos ânimos inflamados do momento… Por isso, é tão importante a conversa ao vivo, com olho no olho e linguagem compatível com a pessoa com quem estamos nos comunicando. Isso vale para qualquer eleição. Se você acredita no seu candidato, fale sobre ele com fatos reais e argumentos racionais.

O que é óbvio para mim, não é para o outro, a informação que está acessível para mim, não está para o outro – é preciso ter isso em mente! Se pudermos sempre compartilhar nosso conhecimento com pessoas de diferentes esferas sociais, temos muito a ganhar como sociedade. E agora o que queremos é colaborar para que o Brasil seja um lugar melhor para todos, certo?! Espero que minhas reflexões tenham feito sentido para você.

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