“Tchekhov é um Cogumelo” mostra três irmãs intelectualizadas, três mulheres tentando compreender o mundo embaladas por música impactante. A peça nos faz refletir sobre porque sonhamos alto e voamos baixo. Em cartaz no CCBB, é uma experiência alucinante com o teatro!

Fui assistir “Tchekhov é um Cogumelo” no dia da estreia do espetáculo no Cena Brasil, 7º edição de um vasto festival internacional que reuniu teatro, dança, performances e shows oriundos da Argentina, Chile, Estados Unidos, França e Brasil no CCBB Rio. Saí de lá impactada e reflexiva.

A peça segue em cartaz depois do festival (até dia 22/07). “Tchekhov é um Cogumelo” estreou ano passado em São Paulo e foi indicada ao Prêmio APCA de Melhor Espetáculo de 2017, ao Prêmio Shell de Melhor Música e eleita um dos Três Melhores Espetáculos do Ano no júri dos críticos do Jornal Folha de SP. O espetáculo marca uma década da fundação da Cia. Estúdio Lusco-Fusco, caracterizada por explorar a intersecção das linguagens do teatro, dança, cinema e artes visuais.

No palco, se reúnem três mulheres, Helena Ignez e Djin Sganzerla (mãe e filha na vida real) e Michele Matalon – gosto desse quê de feminismo como protagonista. Dois bailarinos, Samuel Kavalerski e Fernando Rocha, canto em tempo real na voz embriagadora de Roberto Moura – que entoa cantos ciganos, armênios e servos (dá vontade de passar a vida ouvindo-o  cantar) e a participação especial do Grupo Embatucadores. Em “Tchekhov é um Cogumelo”, esse grupo paulistano que tira música de instrumentos não tradicionais, fez um som contagiante com latas de tinta, garrafas pet, tonéis de plástico, tubos de PVC, etc, além de uma presença de palco que não deixou ninguém sentado.

Para completar esse mosaico, o diretor André Guerreiro Lopes também aparece vestindo um capacete de eletrodos e sua atividade cerebral é transformada em impulsos elétricos que acionam ao vivo uma instalação sonora e visual criada pelo músico Gregory Slivar. Além disso, há videoprojeção de uma entrevista do tempo do VHS, feita pelo diretor e alguns colegas, quando ainda era um estudante de teatro, com o papa do teatro no Brasil, Zé Celso, hoje com 81 anos. Nesse depoimento sincero e histórico, o dramaturgo relata os bastidores do processo de criação de “As Três Irmãs” no Teatro Oficina, em 1972, cujas experiências com substâncias alucinógenas permitiram uma compreensão original da obra de Tchekhov. Daí você já pode imaginar o porquê do nome dado a essa versão da peça, “Tchekhov é um Cogumelo”!

O trio de atrizes interpreta uma relação fraternal nessa adaptação de “As Três Irmãs”, um clássico do século XIX do dramaturgo russo Anton Tchekhov. Aqui você pode vê-las como três irmãs ou quem sabe como a mesma mulher em três fases da vida, uma vez que há uma diferença de 20 anos entre as três, diferentemente do original, onde as idades das irmãs Olga, Irina e Macha são bem próximas.

Com algumas citações lindas e marcantes que infelizmente não quero reproduzir aqui para evitar spoiler, mas que não saem da minha cabeça e levarei pra vida, o texto transpõe a desesperança abordada por Tchekhov, tão presente na população brasileira atual, mas nos move a sair dessa apatia, a seguir adiante. O tempo é a obra-prima desta peça e é sobre ele que as mulheres filosofam. Há momentos de reflexão, tédio e euforia, ação e inércia. Tem uma cena encantadora aos olhos que se passa à mesa.

Depois de apresentar “Ilhada em mim – Sylvia Plath”, no Teatro Poeira, a companhia Estúdio Lusco-Fusco dá prosseguimento a sua temporada na cidade com essa montagem original no universo de “As Três Irmãs”, de Tchekhov, mesclando ficção, neurociência e memória!

“Tchekhov é um Cogumelo” está em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil / Teatro I (Rua Primeiro de Março, 66 – 21 3808-2052), de 20/06 a 22/07, de quarta a domingo, às 19h. Ingressos: R$20 (inteira) e R$10 (meia) na bilheteria do CCBB ou online.

  • Crédito das fotos: André Guerreiro Lopes e Jennifer Glass

*A experiência contada nesse post foi uma cortesia do espetáculo.

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