Três mães do grupo de WhatsApp da pracinha se encontram num bar. As outras mães não compareceram porque ou não ganhou vale night, ou o filho adoeceu, ou porque estava cansada, ou achou que ia dar trabalho demais sair de casa. Azar o delas porque as que se aventuraram em ir brindar a vida, literalmente, se encontraram.

Primeiro fiquei pensando: quem for assistir “Vale Night” e não tiver filhos, não vai querer tê-los de jeito nenhum. Mas logo mudei de ideia: quem estiver em dúvida se ter ou não ter, tenderá para o lado do sim, para poder vivenciar toda essa tempestade de emoções que é ser mãe! E ser mãe não implica apenas na relação mãe-filho, mas em outros papéis: companheira, amiga, funcionária…

O período da licença maternidade é mágico, repleto do amor mais puro e com uma novidade atrás da outra, mas é também marcado pela solidão. Que mãe de bebê não se sentiu solitária? Há uma simbiose mãe-bebê e a maioria do tempo serão só vocês dois. Porque à medida que os filhos vão crescendo e precisando menos da gente, nós, as mães, conseguimos botar nossas asinhas para passear.

Nos primeiros meses de vida do meu filho criamos o grupo de WhatsApp “mamães vizinhas”, que ainda perdura e tenho certeza, será um vínculo eterno. Em “Vale Night”, dramaturgia de Renata Mizrahi, ela partiu desse princípio: Se você é mãe de bebê, provavelmente foi incluída em pelo menos um grupo de WhatsApp, aquele ambiente virtual que reúne mulheres muito diferentes, mas com algo em comum: seus filhos. E o que acontece quando essas mães, com vidas, histórias e expectativas distintas, se encontram no mundo real? Falarão de si ou dos filhos? A partir daí, tem início essa comédia ácida e cálida, para rir e para chorar, com momentos de tensão, de empatia e de querer se levantar e fazer um afago na cabeça da outra. Total identificação, total total!

É engraçado, porque fui com duas amigas do meu grupo de WhatsApp “mamães vizinhas” e cada uma de nós se identificou com uma personagem: a surtada que quer fazer tudo certinho, a independente, a superprotetora… Que tipo de mãe é você? Não importa, viva a subjetividade humana.

Depois que você vira mãe, uma expressão mágica é “vale night”. Que presentão quando alguém te oferece uma noite livre! O espetáculo leva à cena, de maneira leve, a pressão que a mulher sofre ao se tornar mãe e a solidão sentida, mas muitas vezes calada e ofuscada nas redes sociais. Lembro de uma amiga, totalmente avessa às redes sociais, mas que postou uma vez uma foto montando árvore de natal com os filhos. Ela conta que se sentiu muito mal, porque, em função do trabalho, ela quase não ficava com eles, e aquela imagem lhe pareceu uma farsa. Engana-se, as mães são perfeitas, cada uma com sua imperfeição. E estarão sempre cheias de culpa, ainda que não sejam “culpadas”.

As atrizes Aline Carrocino, Diana Herzog e Vilma Melo (revezando algumas sessões com Daniela Fontan) dão vida às mães que, nesse encontro, embora a princípio pareçam não ter nada a ver uma com a outra, se dão conta de que são submetidas às mesmas pressões, cobranças e reprovações. As atrizes são espetaculares.

Lembro de uma postagem ótima. Uma mãe colocou uma faixa enorme na porta de casa que dizia: “a cada cinco pacotes de fralda ganhe o direito de dar um palpite na criação do meu filho.” Como já falamos, os filhos vão crescendo e vamos deixando de ouvir esses reproches, que vêm como reprovações ao nosso jeito de cuidar. Mas quando são bebês, as intervenções são frequentes, como se fôssemos incompetentes mães de primeira viagem.

Quando eu amamentava e meu filho começava a chorar, as pessoas me bombardeavam com “hipóteses”: esse menino precisa de uma mamadeira, acho que esse seu peito não tem leite… Comentários  inadequados e, aqui pra nós,  mal educados!

A peça é de uma sensibilidade! Toca com delicadeza no tema do deixar de amamentar, por exemplo. Descobri quando tornei-me mãe que algumas mulheres não amamentam seus bebês porque não puderam, e não porque não quiseram. As mães precisam ser acolhidas, e não julgadas. “Vale Night” também mostra como reagir diante do bombardeio de informações das mídias. O que fazer com tanta publicidade? Bom senso, minha gente!

“Queremos provocar a reflexão sobre como estão as mães de bebês hoje. Somos bombardeadas de informações, compartilhadas em grupos de WhatsApp, que age como uma ferramenta de apoio, ameniza a solidão, mas não resolve a opressão social sofrida pela mulher”, diz a autora. “Não quero dar respostas, apenas mostrar três mulheres bem diferentes que vão se conectando aos poucos. Nessa noite, elas descobrem como podem se dar as mãos, se acolherem, fazerem rir ou até expor os mais ocultos desejos”.

Renata Mizrahi também escreveu ‘Os sapos’, “Silêncio!” e ‘Galápagos’. Assisti “Galápagos”, excelente, que lhe rendeu o Prêmio Shell de melhor texto.

“Vale Night” só dura uma hora, uma pena, porque é tão gostoso. Queria mais causos. Histórias não faltam, ser mãe exige intensidade. E essas trocas são de grande ajuda! Espero que você consiga uma folga para se divertir nessa comédia-drama.

O Espetáculo “Vale Night” reestreia em 16/01/20, com temporada até 21/02/20, com sessões às quintas e sextas às 20:30h, no Teatro Glaucio Gill (Praça Cardeal Arcoverde, s/nº – Copacabana, Rio de Janeiro – RJ. Fica na saída do metrô estação Arcoverde. Tel. 2332-7904). Ingressos podem ser adquiridos na bilheteria do teatro ou online por R$50 (inteira) e R$25 (meia).

A peça teve sua primeira temporada, de 02/08 a 1º/09/19, no Teatro Candido Mendes. Mais infos pelo Instagram ou Facebook da peça. Acompanhe por lá se haverá sessões baby friendly.

Crédito das Fotos: Clara Linhart e Tatynne Lauria

*Post publicado em09/08/19 e revisado em 13/01/20.A experiência contada nesse post foi uma cortesia do espetáculo.

__________________________________________________

  • Fique por dentro de todas as dicas do Vida Carioca: Siga no Instagram / Curta a Página no Facebook / Entre no Grupo no Facebook
  • Você precisa de hotel no Rio? Reserve através desse link do Booking. Você vai pagar o mesmo valor e uma pequena comissão será revertida para o Vida Carioca, ajudando o blog a se manter. 😉

1 comentário

  1. Obrigada pelo seu relato. Ler isso é o que me motiva a colocar essa peça em cartaz!

Escrever um comentário