Lista de livros que li recentemente e gostei bastante. Aqui há temas diversos, alguns títulos tem relação com o Rio de Janeiro, outros não.

1- “O corpo encantado das ruas”, Luiz Antonio Simas

Um livro onde o assunto é algo que quase passa despercebido numa era onde a tecnologia impera e o tempo é escasso: a simplicidade (ou seria complexidade?) do que acontece nas ruas do Rio de Janeiro. Entusiasta da cultura popular carioca, o professor de história Luiz Antonio Simas gosta de valorizar aquilo que ao primeiro olhar “não tem nada de espetacular”.

Em mais de 40 crônicas, ele leva o leitor a um passeio por costumes antigos, religiões afro-brasileiras e histórias do subúrbio contadas em primeira pessoa. Valoriza a sabedoria que só quem circula pelas ruas é capaz de ter, deixando de lado aquela teoria simplista que pretende dividir a cidade entre zona sul e zona norte, favela e asfalto – pois o Rio de Janeiro tem infinitamente mais possibilidades do que essas e é na rua que todas as nuances da cidade se encontram.

Leitura leve e deliciosa para quem gosta da cultura carioca e quer aprender mais sobre ela, me peguei sorrindo em diversos trechos! É justamente esse “funcionamento” do Rio uma das coisas que mais me fascina… Quando vim morar aqui, não tinha ideia da riqueza que está nos pormenores da cidade. Aprender sobre isso com as palavras do tijucano Simas é um alento e reforça a esperança no Rio de Janeiro que resiste!

2- “A verdade sobre o caso Harry Quebert”, Joël Dicker

Daqueles livros que a gente não consegue parar de ler, se envolve com os personagens, fica pensando no que eles fizeram e porque fizeram isso… Que dá uma curiosidade gigante para saber o que acontece no final e assim que chega a última página já vem um pontinho de tristeza porque acabou! Esse livro me transportou para a pequena cidade de Aurora, nos EUA, onde um escritor decide investigar um crime bárbaro ocorrido há mais de 30 anos.

Depois de escrever seu primeiro best-seller, Marcus Goldmann se sente totalmente sem inspiração e, em busca de conselhos, vai procurar seu ex professor e amigo Harry Quebert, conhecido no país todo por ter escrito um livro considerado obra prima. É então que algo absurdo acontece: o corpo de Nola Kellergan, adolescente desaparecida há décadas, é encontrado enterrado no jardim de Harry. Imediatamente ele é preso e confessa que não apenas teve um caso com ela na época, como ela foi o grande amor de sua vida e o inspirou para escrever seu livro de maior sucesso. Mas jura que nunca seria capaz de matá-la!

Desesperado para descobrir a verdade e livrar o amigo da injustiça, Marcus se une à polícia numa complexa investigação, onde personagens tão hilários quanto surpreendentes são suspeitos. As reviravoltas não param, deixando o leitor sem fôlego! A narrativa, instigante pela riqueza de detalhes da história e o ritmo intenso nas mais de 500 páginas, se torna mais interessante com os trechos de conversa entre os dois escritores sobre as dificuldades de escrever um livro. Uma trama cheia de suspense e romance onde tudo pode ser muito diferente do que parece – tanto para melhor quanto para pior… O autor suíço Joël Dickel ganhou diversos prêmios por esse livro sensacional!

3- “Fodeu geral”, Mark Manson

Do mesmo autor do grande sucesso “A sutil arte de ligar o foda-se”, o livro aborda a nossa necessidade de sentir esperança. Com linguagem bastante coloquial, direta e muitas vezes irônica, são apresentadas questões comuns a todo ser humano, promovendo uma reflexão existencial bem embasada, mas ao mesmo tempo, leve. O texto prende e lança teorias de pensadores (Platão, Newton, Nietzsche, Einstein e muitos outros passam pelas quase 300 páginas), psicologia e ciência de forma muito simples de entender. O autor constrói uma interessante linha de raciocínio, que tem como princípios básicos a divisão do nosso cérebro em duas partes, uma pensante e outra sensível, e o fato de fazermos o que queremos ao invés daquilo que precisamos.

Se apoiando em fatos da história da humanidade e jogando duras verdades na nossa cara, Manson mostra que a dor é uma constante, a esperança é uma ilusão e nada pode ser mais importante que o autoconhecimento. Gostei muito da forma como diversos assuntos se encaixam e fazem sentido! Não posso comparar com seu primeiro livro, pois não o li (ainda), mas posso dizer que achei uma leitura equilibrada – dá para aprender, refletir, se divertir e se distrair, tudo na medida.

4- “O silêncio da chuva”, Luiz Alfredo Garcia-Roza

Que sensação boa ler um livro cujo personagem principal mora no meu bairro, Copacabana! O inspetor Espinosa é um policial que compartilha com o leitor seu lado íntimo através de pensamentos e sensações detalhadas acerca de todas as situações que vive. Sua rotina de trabalho na delegacia da Praça Mauá tem espaço para um chope acompanhado de sanduíche de pernil num boteco e uma parada num tradicional sebo para comprar livros – estabelecimentos cariocas, assim como ruas e prédios, são descritos com detalhes e isso é muito bacana para quem ama o Rio!

A história se desenrola de forma intensa e o leitor se sente convidado a desvendar o mistério, que envolve uma série de assassinatos, corrupção, atração física e personagens bem construídos, daqueles que parecem pessoas que a gente conhece… Coincidentemente, comecei a ler esse livro poucos dias antes de o autor morrer. O carioca Garcia-Roza faleceu recentemente, no dia 16/04/20 (aos 84 anos, em decorrência de um AVC) e deixou importante legado, sendo considerado o escritor precursor no gênero romance policial no Brasil!

“O Silêncio da Chuva” é seu primeiro livro e foi publicado quando ele tinha 60 anos, depois desse título o inspetor Espinosa apareceu em alguns outros, tornando-se o personagem mais famoso do autor. Além da narrativa envolvente, trama bem elaborada e estilo original, me fascinou o fato de o livro ter sido escrito numa época na qual não existia celular. Achei muito interessante imaginar o ritmo da vida num Rio de Janeiro onde o rumo de uma investigação pode mudar em função de uma secretária eletrônica… Ah, parece que esse livro vai virar filme em breve e Espinosa será interpretado por Lázaro Ramos.

• Post escrito pela autora do blog Juliana Goulart. 

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