A zona sul carioca acaba de ganhar mais um teatro, o Espaço Abu, novinho em folha, feito por e para os amantes dessa arte! O primeiro espetáculo em cartaz, “Chuva”, encena a incomunicabilidade nas relações humanas abordada na obra de Luiz Vilela, renomado contista brasileiro. Montagem minimalista e espaço intimista são um presente para Copacabana… Bravo!

O teatro. A crise enfrentada pela cultura carioca não foi empecilho para os sócios Felipe Vasconcelos (ator e diretor) e as atrizes Beatriz Castier e Ana Gawry, membros do grupo Tábula Rasa, realizarem sua maior aspiração: a abertura de um pequeno teatro. Após quase três anos de planejamento e obras, o Espaço Abu, em Copacabana, abriu suas portas no dia 19 de julho para receber projetos de artes cênicas, literatura, cinema, fotografia e música, com lotação de 40 espectadores. O trio audacioso por trás dessa sala multiuso assumiu todos os custos do empreendimento, sem contar com qualquer tipo de patrocínio. Não é de se louvar?!

O Espaço Abu tem pouco mais de 100m², e a cenografia versátil de José Dias permite o uso da sala não apenas para espetáculos, mas também para cursos, palestras, ensaios e exposições. Por estar localizado na pulsante Avenida Nossa Senhora de Copacabana, foi dada especial atenção ao tratamento acústico, com projeto concebido pelo escritório de arquitetura Roberto Thompson Motta. Segundo Beatriz Castier, uma das sócias-fundadoras, o Abu pretende “estimular a realização de ações culturais na cidade”. Vamos prestigiar.

O grupo. Abu significa ‘silencioso’ em Tupi, e remete não só ao cuidado com o isolamento acústico da casa, mas à proposta estética do Grupo Tábula Rasa. Formados pelos atores Ana Gawry, Beatriz Castier, Carlos Emílio Jacuá e pelo diretor e ator Felipe Vasconcelos, o grupo foi fundado em 2012 com o objetivo de levar à cena obras focadas no trabalho do ator, no drama e na palavra. O primeiro espetáculo foi  ‘O Chefe de Tudo’, de Lars Von Trier, que ficou em cartaz no Rio em 2013 e 2014. ‘Chuva’ é o segundo  da companhia.

O espetáculo. A casa abre com “Chuva”, trazendo a montagem de cinco contos do livro “Chuva e outros contos”, do célebre contista mineiro Luiz Vilela. O Grupo Tábula Rasa mergulha nas águas profundas de temas como solidão e vazio.

Partindo quase sempre de uma situação banal – uma conversa de bar ou uma visita, as histórias em cena apresentam uma humanidade angustiada, solitária, amarga, frustrada, numa busca desesperada por um sentido de viver, mas incapazes de se comunicar com seus semelhantes. Os fatos se desenrolam com naturalidade, num clima de pessimismo, sordidez e algumas vezes de ridículo. A atmosfera é de suspense, não sabemos como as personagens vão reagir na intimidade daquelas conversas.

O autor. Os contos de Luiz Vilela são atravessados pela incomunicabilidade nas relações humanas. Recheados de humanismo nos faz indagar nossa existência. Os textos são cheios de força e ao mesmo tempo despretensiosos.

“É impressionante a excelência do diálogo na obra do Vilela. São textos que falam do cotidiano das pessoas, em conversas simples, mas, a partir dessa simplicidade aparente, pode-se aprofundar nos abismos complexos e perturbadores do ser humano”, analisa o diretor Felipe Vasconcelos, quem também atua na peça e é um dos fundadores do Abu.

Na iluminação está Tomás Ribas e Boy Jorge, na operação de luz. Cenografia é de Aurora dos Campos. A “Chuva” dura apenas 1h e os contos encenados são os seguintes:

Com os seus próprios olhos: Um aluno é convocado a comparecer ao gabinete do diretor do colégio para tratar de um episódio delicado. Mosca morta: Um homem aparece de repente num bar e tem com outro um diálogo tenso. Vazio: Uma mulher tenta entender por que o marido chegou em casa antes do fim do expediente. Solidão: Uma mulher solitária visita, sem avisar, um casal vizinho, gerando mal-estar entre o marido e a esposa. Chuva: Após acolher em sua casa um vira-lata numa noite chuvosa, um homem divaga sobre a solidão.

Eu, que particularmente me atraio pelo tema de personagens solitárias e pela angústia de existir e co-existir, características recorrentes nos contos de Luiz Vilela, gostei muito de “Chuva”. Sem contar da alegria de prestigiar a abertura de um teatro novo e feito com tanto primor e amor pela arte!

O espetáculo “Chuva” está em temporada até 19/08/19 no recém-inaugurado Espaço Abu (Av. Nossa Senhora de Copacabana, 249, loja E, Copacabana – 21 2137-4184 / 2137-4182) com sessões de sexta a segunda às 20h. Ingressos custam R$40 (inteira) e R$20 (meia) e podem ser adquiridos na bilheteria do teatro ou online. Mais informações na página do Facebook de “Chuva”.

Crédito das fotos: Ana Gawry e Felipe Vasconcelos

*A experiência contada nesse post foi uma cortesia do espetáculo.

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