Chega ao teatro a adaptação de “Dogville”, uma das obras-primas do cineasta dinamarquês Lars Von Trier! Considerado pela BBC um dos melhores filmes do século 21, o longa estrelado por Nicole Kidman, lançado há 15 anos, dividiu opiniões. A história do fictício povoado de Dogville, cujos bondosos habitantes abrigam uma fugitiva, se converte numa verdadeira dissertação sobre a natureza humana.
- Post escrito pela colaboradora Carolina Machado.
A pequena e cinzenta cidade de Dogville recebe, como um presente caído dos céus, uma foragida. Em busca de proteção e esconderijo, a mulher, Grace, é acolhida por seus habitantes, aparentemente bondosos, de cuja generosidade ela passa a depender para sobreviver. Com dramaturgia de Christian Lollike e direção de Zé Henrique de Paula, “Dogville” traz um elenco robusto encabeçado por Mel Lisboa, que interpreta Grace, e mais 15 atores.
Fiquei em êxtase quando soube dessa adaptação para o teatro! Lars Von Trier, o cineasta que criou “Dogville”, é provocador e causa polêmica: alguns amam suas obras, mas odeiam sua pessoa. Conhecido por ser difícil, algumas das atrizes que trabalharam com ele, como Björk, Nicole Kidman e Emily Watson, disseram nunca mais repetir a dose. Seus filmes estão cheios de mulheres que sofrem em demasia, e muita gente acha que é ele quem ganha os louros por isso. O certo é que as estreias de seus filmes causam frisson. Agora mesmo está em cartaz seu novo longa, “A Casa que Jack Construiu”.
Dogville, quando lançado em 2003, tinha uma estética completamente inovadora. Era uma obra cinematográfica, porém gravada como peça de teatro. Feito num galpão, sem cenário, apenas pouca mobília, os limites das casas eram feitos com riscos de giz no chão, sobre os quais os personagens se moviam. O foco era o elenco, pois a essência da obra é discorrer sobre a natureza humana. O trabalho dos atores deve ter sido árduo, imagino quão desgastantes foram os ensaios…
Fiquei muito curiosa para ver como seria a adaptação para o teatro. O cenário segue minimalista, exigindo muito dos atores, que preenchem o palco, e a referência ao filme se dá através de uma vídeo instalação. Para o diretor foi um desafio transformar o filme de Lars numa peça, já que, como falei, o original já era muito teatral. Então, ele adotou o caminho inverso, de trazer a linguagem cinematográfica usando projeções e videomapping, a cargo de Laerte Késsimos.
Figurino é de João Pimenta e Bruno Anselmo assina o cenário, feito de uma sucessão de telas nas quais acontece a projeção, além de muitas cadeiras, uma para cada morador, os algozes de Grace, antes pacatos e depois sem as máscaras. Em Dogville residem poucas famílias, que topam esconder Grace, mesmo em escassas condições de vida. A fugitiva, que chega de repente, abalando a rotina de suas vidas, oferece ajudá-los com o que precisem, como agradecimento.
E quanto mais procurada pela polícia e mais ela depende deles, mais ela se oferece, se submete, mais bondosa e prestativa ela se mostra e assim, mais abusada ela é. A ponto disso se desdobrar em atrocidades inimagináveis! As atitudes de todos incomodam a gente, tanto dos algozes, quanto da vítima que não reage. Não há como ficar indiferente a tudo que a peça suscita: questões filosóficas, psicológicas e sociais, uma sensação de falta de fé na humanidade, mas ao mesmo tempo um incômodo em relação à submissão de quem se deixa explorar.
O povoado criado por Lars Von Trier pode ser em qualquer lugar. O mal pode crescer em qualquer parte se são dadas as circunstâncias. Em “Dogville”, um mal é praticado em nome do bem. É uma reflexão e uma crítica à falta de fé na humanidade, onde os personagens são como pessoas reais: dotados de luz e de sombras.
Li uma entrevista de Fábio Assunção, que faz parte do elenco, ao jornal O Globo sobre sua atuação, e o ator diz que interpreta seu personagem sentindo dores e com ar cansado, como quem prediz: “vai dar M”. E dá! Não me lembrava do final do filme, então saí chocada. E maravilhada. Além da sensação de ter que pensar sobre aquilo, porque incomoda, a obra te sacode do início ao fim, não tem como não refletir sobre ela, você sai precisando trocar uma ideia. As pessoas só fazem com a gente o que a gente deixa. Quem é perigoso afinal?
O vigoroso elenco é composto de: Mel Lisboa (Grace), Eric Lenate (Narrador), Fábio Assunção (Chuck), Bianca Byington (Vera), Rodrigo Caetano (Tom Edison), Anna Toledo (Martha), Marcelo Villas Boas (Ben), Gustavo Trestini (Sr Henson), Fernanda Thuran (Liz), Thalles Cabral (Bill Henson), Chris Couto (Sra Henson), Blota Filho (Thomas Pai), Munir Pedrosa (Jack McKay), Selma Egrei Ma Ginger), Fernanda Couto (Glória) e Dudu Ejchel (Jason).
“Dogville” estreou dia 02/11 e tem temporada até 16/12, sextas e sábados às 21h e domingos às 20h. No Teatro Clara Nunes, no Shopping da Gávea (Rua Marquês de São Vicente, 52 – 21 2274-9696). Ingressos custam: Nas sextas, R$80 inteira e R$40 meia na plateia / R$50 inteira e R$25 meia no balcão. Sábados e domingos, R$100 inteira e R$50 meia na plateia / R$ 70 inteira e R$ 35 meia no balcão. Podem ser comprados na bilheteria ou pelo site do Tudus. Acompanhe novidades pelo Facebook da peça. “Dogville” tem 2h de duração.
Crédito das fotos: Renato Mangolin (cena) e Alê Catan (retratos)
*A experiência contada nesse post foi uma cortesia do espetáculo.
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