Um jovem advogado de defesa quer convencer o júri de que os assassinatos cometidos por seu cliente, um assassino em série, foram consequências de um desajuste social. Com sessões apenas às quintas, o Teatro Petra Gold encena “Normal”, texto inédito no Brasil, trazendo à tona discussão sobre a parcela de culpa da sociedade em criar monstros.

Julgar é fácil, mas vamos aos fatos? A partir do mote de que qualquer infrator foi uma criança um dia, a trama de “Normal” levanta uma discussão: como nasce um criminoso? Caráter inato ou foi o meio que a levou a se perder?

Justus Wehner (papel de Fifo Benicasa) é um cândido, humano e sério advogado com um encargo que talvez possa não deixar seus pais tão orgulhosos da carreira prodígio do filho. É que lhe foi dada a incumbência de defender o serial killer Peter Kurten, um dos mais notórios do século XX, conhecido como “O Vampiro de Düsseldorf”.

Baseado em fatos reais, Peter Kurten (interpretado por Ricardo Soares) realmente existiu. Nascido na Alemanha praticou uma série de crimes, desde roubos, estupros e assassinatos cruéis, atacando crianças, adultos e animais. Foi assunto na mídia alemã no ano de 1929 ficando conhecido pela alcunha de “Vampiro de Düsseldorf” após chupar sangue de uma de suas vítimas.

Pesado, não? Mas não se assuste, diante de tanta crueldade é possível respirar durante a peça. Há momentos de leveza, como a paixão do advogado pelo ofício e o sarcasmo da personagem em julgamento. Clima noir e trilha sonora original composta por João Schmid.

Os dois atores em cena compraram os direitos do texto do autor escocês Anthony Neilson. “Normal” acompanha os últimos dias de vida do assassino enquanto seu advogado prepara a defesa querendo provar ao júri que os assassinatos provocados por Kurten são consequências de um desajuste social. E assim mergulha em sua história familiar num tête-à-tête comovente que nos traz algumas reflexões sobre a culpa da sociedade em desvirtuar pessoas e fabricar monstros. Afinal como entender tantas atrocidades?

Os diferentes, os esquisitos, os desajustados, os monstros. Por curiosidade, você sabia que normalidade não vem da palavra ‘normal’, como sinônimo do mais comum, o mais abundante, o mais habitual? Mas sim de ‘norma’, de regulação e de mandato. A normalidade é um marco convencional que homogeneíza os humanos. Com direção de Luiz Furlanetto, a peça “Normal” levanta questões sobre o desajuste mental, a violência e suas origens.

“Um texto relevante neste atual momento do mundo, quando a sociedade julga determinados tipos de comportamento, sem se aprofundar em suas causas e sem perceber as consequências que os julgamentos precipitados ocasionam”, detalha Ricardo Soares, ator, produtor e idealizador da montagem ao lado de Fifo Benicasa.

Em cena vamos, junto com Justus, descobrindo sobre a família de Peter, sua mulher, Frau Kurten (a atriz Nara Monteiro), e suas vítimas montando um quebra-cabeça para repensar o ser humano em sociedade e a importância da família na criação do ser humano. Indo além do caráter inato de um indivíduo perverso. Afinal a violência é nata ou socialmente construída? Trata-se de um desajuste mental ou de falta de perspectiva? Bom, talvez um pouco dos dois.

Aproveito para informar que o Teatro Petra Gold é o antigo Teatro Leblon, que ficou fechado por dois anos devido a dificuldades. Foi rebatizado e reaberto há pouco tempo, em 07 de junho. O teatro fundado em 1994 foi reformado, porém, sem perder sua essência e com programação diversificada. É um espaço que preza pela democracia da cultura! O espetáculo “Normal” foi realizado sem nenhum patrocínio.

Se fosse um filme, esses seriam os créditos finais: A sentença do anormal Peter Kurten foi morte por decapitação em 1931 e sua cabeça está exposta em museu. O membro do corpo foi conservado para estudos,  posteriormente a cabeça foi dissecada e mumificada fazendo parte do acervo do museu “Ripley’s Believe It or Not!” na cidade de Wisconsin Dells, nos Estados Unidos. Que história!

“Normal” tem temporada de 25/07 a 22/08/19 no Teatro Petra Gold (Rua Conde de Bernadotte, nº 26, Leblon – 21 2529-7700), com sessões somente nas quintas-feiras às 20h. Ingressos  custam: R$ 60 (inteira) e R$30 (meia). Duração: 90 minutos. Saiba mais na página do Facebook de “Normal”.

Crédito das fotos: Pedro Murad

*A experiência contada nesse post foi uma cortesia do espetáculo.

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