Assisti na última sexta-feira ao lindo espetáculo “Felizes Mortos”, que tem temporada curta de apenas cinco semanas. Num teatro intimista, dentro de um espaço jeitoso em Botafogo – o belo casarão restaurado chamado Reduto – a sessão estava completamente lotada. A peça traz para o debate o peso da culpa e da moral em nossas escolhas no decorrer da vida.
- Post escrito pela colaboradora Carolina Machado.
O cenário colorido de tintas criado por José Dias, o efeito artístico da luz por Gabriel Prieto e a trilha gostosa, composta especialmente para o espetáculo, por Natália Oliveira se juntam à bela atuação, em sintonia fina, das duas atrizes em cena, Joana Kannenberg e Júlia Portes, com direção acertada de Lucas Lacerda – assim é “Felizes Mortos”. Bravo!
Duas jovens mulheres se reencontram no velório de uma senhora, cara a ambas, e entram em conflito pela diferente forma que cada uma tem ao lidar com a morte e também de como levam a própria vida. Juntas elas precisam realizar o último pedido daquela que morreu: pintar seu túmulo com cores vivas e alegres.
Dramaturgia escrita em conjunto pelo diretor, as duas atrizes e Denise Portes, que empresta para a ficção um fato real vivenciado por ela, “Felizes Mortos” subverte a ideia sombria da morte. Uma senhora que deseja que seu caixão seja pintado com cores alegres não é algo corrente e pode até despertar estranheza. E será que permitiriam isso no cemitério, um lugar tão cinza? Atenção para o momento em que esta história deliciosa é contada no palco.
Vivemos numa cultura em que a morte está relacionada ao choro e à tristeza. Por que não encará-la de maneira mais leve através da arte, de cores, poesia ou cantando no velório, por exemplo? Por que não celebrar com alegria a memória de quem se foi?
De posse de pincéis e tintas, Joana e Júlia, que interpretam, respectivamente, Francini e Marta, amigas desde a infância, a primeira religiosa e caseira, a outra mais livre e desprendida, trocam suas histórias repletas de ressentimento, intolerância e expectativa com drama e humor! Camufladas no cemitério, diante do túmulo e do luto, elas têm várias questões guardadas, muitas delas vinculadas à culpa, despejadas em cena num diálogo rico, forte e também engraçado.
O embate propõe uma reflexão de como o julgamento moral e a busca pela aprovação social refletem em nossas escolhas. Priorizando isso, muitas vezes nos boicotamos e distorcemos nossa existência.
“Carregamos culpas e feridas que nos afastam de nossa essência. Por meio do contato com a morte e do conflito, as personagens refletem sobre suas próprias escolhas e repensam sobre como querem levar a vida dali em diante”, diz o diretor — que recentemente tivemos o prazer de ver atuando no espetáculo “Os Javalis” (veja nosso post aqui!).
“Felizes Mortos” nos alerta para não nos distanciarmos de nosso próprio desejo em prol das entraves que a sociedade sorrateiramente nos coloca.
“Muitos assuntos nos atravessam. Eu mesma vim do interior do Rio Grande do Sul e deixei minha família para trás. Sempre existe um questionamento do que eu poderia estar perdendo estando aqui, atrás do que eu vim fazer. Quando as coisas ganham ou perdem sentido?”, questiona a atriz Joana Kannenberg. E acrescenta: “Olhar para a morte faz a gente rever nossa vida e refletir sobre tudo isso”.
Observe-se: como você tem levado a vida?
“Felizes Mortos” está em curta temporada de 8 de março a 6 de abril – sexta às 20h e sábado, às 20h e às 21h, no bar O Reduto, em Botafogo (Conde de Irajá, 98). Duração: 70 min. Capacidade: 40 lugares. Ingresso: R$ 20 (meia) e R$ 40 (inteira).
Crédito das fotos: Priscila Jammal
*A experiência contada nesse post foi uma cortesia do espetáculo.
__________________________________________________
- Fique por dentro de todas as dicas do Vida Carioca: Siga no Instagram / Curta a Página no Facebook / Entre no Grupo no Facebook
- Você precisa de hotel no Rio? Reserve através desse link do Booking. Você vai pagar o mesmo valor e uma pequena comissão será revertida para o Vida Carioca, ajudando o blog a se manter. 😉
Escrever um comentário