Unidos da Tijuca | samba-enredo 2020

A G.R.E.S. Unidos da Tijuca foi fundada em 1931 e, é portanto, uma das escolas pioneiras no carnaval carioca. Chegou a ser campeã do carnaval de 1936 e depois ficou muitos anos nas séries inferiores dos desfiles. Voltou a participar do Grupo Especial nos anos 1980 e a partir dos anos 2000 passou a disputar o título, tendo sido campeã em 2010, 2012 e 2014 (e vice-campeã em outras 4 oportunidades). 

Desde que voltou ao Grupo Especial em 2000 a escola tem fortalecido seus quesitos de chão, como bateria, harmonia e evolução. A escola dificilmente perde ponto nesses quesitos e, por isso, se apresenta quase sempre como uma favorita no carnaval. 

Para 2020, seu enredo é sobre arquitetura e urbanismo, com o título Onde Moram Os Sonhos. O samba foi encomendado para um time de peso: Dudu Nobre, André Diniz, Totonho, Fadico e Jorge Aragão.

VERSO A VERSO

O sonho nasce em minha alma
Vai tomando o peito e ganhando o jeito
Se eternizado, traduzido em forma
O mais imperfeito, perfeição se torna

O samba começa abordando o sonho de ter uma moradia e o processo de construção de uma casa.

Lá no meu quintal eu vou fazer um bangalô
Já foi tapera feita em palha e sapê
E uma capela que a candeia alumiou
A lua cheia

Neste trecho, há uma descrição de várias formas de moradia (bangalô e tapera) e também uma lembrança sobre as capelas, uma das primeiras construções presentes em qualquer cidade/comunidade brasileira. Bangalô é também uma referência a uma das composições mais famosas de Jorge Aragão (“Quintal do Céu”), gravada por Zeca Pagodinho. 

Vem, é lindo o anoitecer
Vai, eu morro de saudade
Todo mundo um dia sonha ter
Seu cantinho na cidade

Neste trecho o samba é bem feliz em nos trazer imagens acerca da vida e das paisagens num morro do Rio de Janeiro e também lembrar que o direito à moradia é um dos direitos mais básicos do ser humano.

Como é linda a vista lá do meu Borel
Luzes na colina, meu arranha-céu
Linhas do arquiteto, a vida é construção
Curva-se o concreto, brilha a inspiração

Aqui o samba lembra de um dos locais de origem da escola (Morro do Borel) e também das diversas imagens de uma cidade grande.

Lágrima desce o morro
Serra que corta a mata
Mata a pureza no olhar
O Rio pede socorro
É terra que o homem maltrata
E meu clamor abraça o redentor

Neste trecho há uma referência à Floresta da Tijuca, a maior floresta urbana do mundo. É lembrada sua importância e também o processo de devastação que vem sofrendo. Quando se fala em redentor, está se lembrando de que a estátua do Cristo Redentor está localizada na Floresta da Tijuca.

Pra construir um amanhã melhor
O povo é o alicerce da esperança

Depois de fazer a crítica, o samba aponta quem pode nos tirar dessa situação: o povo, que é a base (o alicerce) da esperança por um mundo melhor.

O verde beija o mar, a brisa vai soprar
O medo de amar a vida
Paz e alegria vão renascer

Novamente o samba traz imagens acerca das paisagens existentes no Rio de Janeiro, uma metrópole que conta com praias, florestas, cachoeiras, ilhas, etc.

Tijuca faz esse meu sonho acontecer

Esse é um verso idêntico a uma um samba-exaltação da escola (“O Dia Vai Chegar”)

A minha felicidade mora nesse lugar
Eu sou favela
O samba no compasso é mutirão de amor
Dignidade não é luxo nem favor

O refrão aborda o orgulho de morar na favela e faz uma reivindicação acerca do direito à moradia e do direito à cidade, que não podem ser vistos como benevolência ou privilégio. São, como o próprio nome diz, direitos. O “mutirão de amor” é mais uma referência a uma música de Jorge Aragão.