Acadêmicos do Salgueiro | samba-enredo 2020

O G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro é uma das escolas mais tradicionais do carnaval do Rio de Janeiro. Fundada em 1953 a partir da junção de outras escolas dos morros do Salgueiro e do Turano, a vermelho e branco já conquistou 9 campeonatos (o último foi em 2009). 

O Salgueiro tem uma importância fundamental para o carnaval. Foi, por exemplo, a primeira escola a fazer um enredo sobre uma personalidade negra (Zumbi, em 1960). A temática negra, inclusive, esteve presente em muitos carnavais da escola desde então (e em 2020 não é diferente). Neste ano a escola homenageia Benjamin de Oliveira, primeiro palhaço negro brasileiro. 

Em sua história de glórias também há um destaque especial para sua bateria, a furiosa, e para sua ala de compositores.

VERSO A VERSO

Na corda bamba da vida me criei
Mas qual o negro não sonhou com liberdade?
Tantas vezes perdido, me encontrei
Do meu trapézio saltei num vôo pra felicidade
Quando num breque, mambembe Moleque
Beijo o picadeiro da ilusão
Um novo norte, lançado à sorte
Na “companhia” do luar
Feito sambista
Alma de artista que vai onde o povo está

O samba inicia com a trajetória de vida de Benjamin de Oliveira. Negro, filho de um capitão do mato e de uma negra cativa, Benjamin usou da arte como uma opção para que não tivesse o mesmo destino dos demais negros à época. Há várias referências ao circo, como “corda bamba”, “companhia” e “picadeiro”. 

E vou estar com o peito repleto de amor
Eis a lição desse nobre palhaço
Quando cair, no talento, saber levantar
Fazer sorrir quando a tinta insiste em manchar
O rosto retinto exposto
Reflete no espelho
Na cara da gente um nariz vermelho
Num circo sem lona, sem rumo, sem par

Neste trecho há uma referência à relação de Benjamin com Mestre Severino, dono do circo, que por muitas vezes lhe aplicou castigos físicos e também a outras dificuldades que o homenageado teve ao longo da sua carreira. 

Mas se todo show tem que continuar
Bravo!
Ah esperança entre sinais e trampolins
E a certeza que milhões de Benjamins
Estão no palco sob às luzes da ribalta
Salta menino!
A luta me fez majestade
Na pele, o tom da coragem
Pro que está por vir

Após falar das dificuldades, o samba traz a parte positiva da carreira de Benjamin. Aqui também mostra que a presença de Benjamin nos palcos foi um importante exemplo para as crianças negras. 

Sorrir é resistir!

Esse verso dialoga com a conjuntura atual, quando o país vem sendo tomada por uma onda de ódio e de ataques as manifestações culturais. 

Olha nós aí de novo
Pra sambar no picadeiro
Arma o circo, chama o povo, Salgueiro!

Neste trecho do refrão temos referências a frases comuns sobre as apresentações circenses.

Aqui o negro não sai de cartaz
Se entregar, jamais!

O Salgueiro tem uma tradição em apresentar enredos com temática negra, seja falando de personalidades negras, seja falando de religiões de matriz africana e seus orixás. É uma das poucas escolas que pode bater no peito e dizer que “aqui o negro não sai de cartaz”.  Além desse resgate, o refrão volta a falar sobre a conjuntura em seu último verso.