Fundada em 1946, a G.R.E.S. Unidos do Viradouro é a escola de samba mais conhecida da cidade de Niteroi. Até 1985, a escola praticamente desfilou apenas em Niteroi, tendo sido campeã por 18 vezes. A partir de 1986 a escola passou a desfilar no Rio de Janeiro, começando pelos grupos de acesso, até que em 1991 chegou ao Grupo Especial, onde foi campeã em 1997. Naquele ano, os destaques da escola foram a paradinha funk da bateria do mestre Jorjão e o carnavalesco Joãosinho Trinta.
A escola retornou ao Grupo Especial em 2019, após alguns anos no Grupo de Acesso, e quase conseguiu o título, ficando em 2º lugar. Para 2020, a escola aposta nos carnavalescos Tarcísio Zanon (campeão do Grupo de Acesso de 2019 com a Estácio de Sá) e Marcus Ferreira (responsável por bons trabalhos na Inocentes de Belford Roxo) e num dos sambas-enredo mais bem avaliados do ano (porém, minha opinião vai na contramão dessa maré elogiosa ao samba).
O enredo vai falar de mulheres escravizadas na Bahia que, no século XIX, tinham autorização para fazer pequenos serviços fora da casa dos seus donos e usaram dessa brecha para se organizarem coletivamente, com direito a comprar a alforria de muitas delas e também de seus parentes. São as “ganhadeiras de Itapuã”.
VERSO A VERSO
Ora yê yê ô oxum! Seu dourado tem axé
Faz o seu quilombo no Abaeté
Quem lava a alma dessa gente veste ouro
É Viradouro! É Viradouro!
O refrão principal apresenta timidamente o enredo, mantendo algo que tem se tornado uma tradição na escola: versos genéricos que falam mais da própria escola do que do enredo.
Levanta, preta, que o Sol tá na janela
Leva a gamela pro xaréu do pescador
A alforria se conquista com o ganho
E o balaio é do tamanho do suor do seu amor
Mainha, esses velhos areais
Onde nossas ancestrais acordavam as manhãs
Pra luta sentem cheiro de angelim
E a doçura do quindim
Da bica de Itapuã
A primeira parte do samba lembra o cotidiano dessas mulheres, falando da sua relação com a culinária e da luta pela alforria, trazendo também imagens de lugares de Salvador, como Itapuã.
Camará ganhou a cidade
O erê herdou liberdade
Canto das Marias, baixa do dendê
Chama a freguesia pro batuquejê
Nesse trecho, é lembrado a liberdade conseguida pelas ganhadeiras para seus filhos (os erês) e também das festas (batuquejês) para comemorar essas vitórias.
São elas, dos anjos e das marés
Crioulas do balangandã, ô iaiá
Ciranda de roda, na beira do mar
Ganhadeira que benze, vai pro terreiro sambar
Nas escadas da fé
É a voz da mulher!
Xangô ilumina a caminhada
A falange está formada
Um coral cheio de amor
Kaô, o axé vem da Bahia
A segunda parte do samba mantém a descrição das atividades desenvolvidas pelas ganhadeiras em seu cotidiano e também traz elementos sobre sua fé.
Nessa negra cantoria
Que Maria ensinou
Esse trecho anuncia o canto de trabalho das ganhadeiras, dando início ao melhor momento desse samba.
Ó, mãe! Ensaboa, mãe!
Ensaboa, pra depois quarar
Esse refrão reproduz o canto de trabalho das ganhadeiras.