Unidos de Vila Isabel | samba-enredo 2020

Uma das mais conhecidas escolas de samba, a Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos de Vila Isabel foi fundada em 1946. Já foi campeã do carnaval em três ocasiões (1988, 2006 e 2013). É a escola de sambistas como Martinho da Vila, Seu China, Martnália, Paulo Brazão e Luiz Carlos da Vila. 

Tem vários sambas-enredos conhecidos, como Kizomba (1988), Sonho de um Sonho (1980) e Festa no Arraiá (2013). Já teve enredos com temáticas politizadas, como reforma agrária, escravidão, Simon Bolívar, Miguel Arraes e a declaração dos direitos humanos. Desde que foi campeã em 2013 não vinha conseguindo mais emplacar um bom desfile, tendo sido ameaçada de um novo rebaixamento algumas vezes. Em 2019 conseguiu reverter essa situação: com um desfile luxuoso sobre Petrópolis, ficou em 3º lugar. 

Para 2020, a escola aposta num enredo que homenageia a cidade de Brasília a partir da sua formação e das lendas que envolvem a região. Entre os compositores do samba-enredo, estão o consagrado Cláudio Russo e Chico Alves, presença frequente nas rodas de samba cariocas e que estreia no samba-enredo. 

VERSO A VERSO

Sou eu!
Índio filho da mata
Dono do ouro e da prata
Que a terra mãe produziu

O samba começa apresentando um dos protagonistas do enredo: o índio, dono da terra e de tudo que havia nela. 

Sou eu!
Mais um Silva pau de arara
Sou barro marajoara
Me chamo Brasil

Nesse trecho, há uma aproximação do indígena que habitava as terras onde hoje é Brasília com os milhares de trabalhadores, especialmente nordestinos (os “Silvas”), que migraram para lá para trabalhar na construção da cidade. 

Aquele que desperta a cunhatã
Pra ouvir Jaçanã sussurrar ao destino

Cunhatã é uma palavra de origem indígena usada para chamar uma criança e jaçanã é uma ave típica da região central do Brasil. 

O curumim, o piá e o mano
Que o vento minuano também chama de menino

O primeiro refrão traz três sinônimos (curumin, piá e mano) para menino e, ao falar do vento minuano, aproxima Brasília também daqueles que vieram do Sul do Brasil para povoar a cidade e nela trabalhar. 

Do Tapajós
Desemboquei no Velho Chico
Da negra Xica, solo rico das Gerais
E desaguei em fevereiro
No meu Rio de Janeiro terra de mil carnavais

Este trecho continua abordando a formação da cidade de Brasília, agora se referindo àqueles que vieram do Norte (“do Tapajós”) e do Sudeste, especialmente de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. “Negra Xica” é uma referência a Xica da Silva, uma personagem importante do período colonial brasileiro, símbolo da luta dos povos por liberdade e dos negros contra a opressão, que já foi enredo do Salgueiro. 

Ô viola!
A sina de Preto Velho
É luta de quilombola, é pranto é caridade

Aqui o samba fala sobre a presença negra na formação da cidade de Brasília, citando os quilombos que se formaram onde hoje é a capital federal.  

Ô fandango!
Candango não perde a fé
Carrega filho e mulher
Pra erguer nova cidade

Candango é o nome que se dá, informalmente, àqueles que nasceram em Brasília. Originalmente, era a denominação daqueles que foram até Brasília trabalhar na construção da cidade. Aqui há, de forma poética, uma descrição acerca das dificuldades que esses trabalhadores encontraram ao irem para Brasília. 

Quando a cacimba esvazia
Seca a água da moringa
Sertanejo em romaria é mais forte que mandinga
Assim nasceu a flor do cerrado

O trecho aborda um dos motivos que levaram milhares de trabalhadores a irem para a futura capital federal: a seca nordestina. 

Quando um cacique inspirado
Olhou pro futuro
E mandou construir
Brasília joia rara prometida

Que a Nossa Senhora de Aparecida estenda seu manto pro povo seguir

Aqui temos uma referência a uma das lendas indígenas sobre formação da cidade e também uma menção sobre a padroeira da cidade. O “cacique inspirado” é o presidente Juscelino Kubitschek, que ordenou a construção da cidade para os “dois pajés” (os arquitetos Lucio Costa e Oscar Niemeyer).

Sou da Vila não tem jeito, fazer samba é meu papel
Fiz do chão do Boulevard, meu céu

Na primeira parte do refrão principal há uma aproximação do enredo com a escola, visto que “Sou da Vila não tem jeito” e “fazer samba é meu papel” são trechos de sambas-exaltação da escola e Boulevard é uma referência ao Boulevard 28 de Setembro, rua onde está localizada a quadra da Vila Isabel. 

‘Paira no ar’ o azul da beleza
Gigante pela própria natureza

Aqui há uma referência a uma das cores da escola (azul), a um trecho do hino nacional, ao Lago Paranoá e também ao título do enredo (“Gigante pela própria natureza”), que também se refere a própria escola.