Criada em 1955, a G.R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel é maior escola de samba da Zona Oeste. Já foi 6 vezes campeã, sendo a última em 2017 (título dividido com a Portela). Depois de alguns anos de um certo ostracismo (passou anos sem participar do Desfile das Campeãs), a escola vem tendo destaque desde o carnaval de 2017, especialmente pela qualidade de seus sambas de enredo.
Entre seus destaques, está a bateria. Foi lá que foram criados o surdo de terceira, por Tião Miquimba, e a paradinha, pelo Mestre André. Por muito tempo, a Mocidade teve a fama de ser uma escola por trás de uma bateria, tal o destaque que essa ala tinha. Depois, também ficou famosa pela ousadia em seus enredos.
Em 2020 vem pra avenida com um dos enredos mais aguardados pela sua comunidade: “Elza Deusa Soares”. Com o carnavalesco Jack Vasconcelos (que esteve a frente da Paraíso do Tuiuti nos últimos anos), a escola é uma das favoritas para ganhar o carnaval.
VERSO A VERSO
Laroyê e Mojubá, liberdade
Abre os caminhos pra Elza passar
O samba começa pedindo licença para homenagear Elza Soares e para que ela passe pela Sapucaí. Laroyê é a saudação a Exu, senhor dos caminhos. Mojubá é “meus respeitos”.
Salve a Mocidade!
Referência ao samba-exaltação da escola, de mesmo nome, nacionalmente conhecido por conta da gravação feita por Elza Soares.
Essa nega tem poder
É luz que clareia
É samba que corre na veia
Aqui o samba começa a contar a história de Elza Soares, trazendo sua negritude e uma referência ao começo da sua carreira como cantora de samba.
Lá vai menina
Lata d’água na cabeça
Vencer a dor, que esse mundo é todo seu
Onde a água santa foi saliva
Pra curar toda ferida
Que a história escreveu
É sua voz que amordaça a opressão
Que embala o irmão
Para a preta não chorar
A primeira parte do samba começa com mais uma referência a uma canção gravada por Elza (“Lata D’Água”) e continua contando a história da cantora, que teve uma infância bastante pobre, cheia de problemas com sua família, violência, etc.
Se a vida é uma aquarela
Vi em ti a cor mais bela
Pelos palcos a brilhar
Depois de falar sobre a infância de Elza, o samba traz o começo da carreira de Elza, onde ela logo chamou atenção pela sua voz e pela sua postura nos palcos.
É hora de acender
No peito a inspiração
Sei que é preciso lutar
Com as armas de uma canção
A gente tem que acordar
Da lama nasce o amor
Quebrar as agulhas que vestem a dor
O refrão do meio traz uma mensagem que pode servir para toda a carreira de Elza. É como se Elza estivesse falando para quem a assiste e conclamando todos e todas para fazerem da arte um instrumento de transformação social.
Brasil
Enfrente o mal que te consome
Que os filhos do planeta fome
Não percam a esperança em seu cantar
A segunda parte do samba começa com uma convocação para que nós brasileiros lutemos contra aquilo que está errado em nosso país. E essa convocação tem um recorte: deve ser protagonizada pelos “filhos do planeta fome”. Nesse trecho também há uma lembrança ao começo da carreira de Elza, quando ela foi se apresentar no programa de calouros de Ary Barroso, com as roupas da mãe (que tinha praticamente o dobro do peso dela) e, ao ser questionada de que planeta ela era, Elza respondeu “eu vim do planeta fome”.
Ó nega!
Sou eu que te falo em nome daquela
Da batida mais quente
O som da favela
É a resistência em oração
Se acaso você chegar
Com a mensagem do bem
O mundo vai despertar
Aqui há várias referências a músicas gravadas por Elza (como “Malandro” e “Se Acaso Você Chegasse”) e também uma visão otimista do papel que a música de Elza pode ter.
Deusa da Vila Vintém
Eis a estrela
Teu povo esperou tanto pra revê-la
O último trecho do samba reaproxima Elza da Mocidade, ao chamá-la de deusa da Vila Vintém (um dos bairros de origem da escola e também local onde ela nasceu), ao fazer referência ao símbolo da escola (a estrela) e também registra o fato de que ter Elza como enredo era algo bastante aguardado pela escola há tempos.