Estácio de Sá | samba-enredo 2020

Grande campeã do carnaval de 1992, a G.R.E.S. Estácio de Sá foi fundada em 1955, com o nome de Unidos de São Carlos. A atual nomenclatura veio no começo dos anos 1980, na tentativa de representar o bairro como um todo e não apenas o morro. E esse não é um bairro qualquer: é ali que nasceu a primeira escola de samba, a Deixa Falar, e onde conviveram Ismael Silva, Bide, Marçal, Brancura, Nilton Bastos e tantos outros nomes importantíssimos para a criação e consolidação do samba. 

Após vencer o Grupo de Acesso em 2019, a escola retorna ao Grupo Especial. Na difícil missão de não ser rebaixada novamente, a escola contratou a carnavalesca Rosa Magalhães, que neste ano realizará seu 50º desfile. 

O enredo fala sobre pedra (e aborda isso de maneira aleatória) e o samba passou por um controverso processo de escolha, que terminou com uma junção entre sambas que estavam na fase final do processo. 

VERSO A VERSO

O poder que emana do alto da pedreira
Tem alma justiceira e garra de leão

Senhor não deixa um filho seu sozinho
Tirando pedras do meu caminho

O refrão começa com uma referência a Xango, orixá da justiça, que tem a pedreira como um dos seus domínios. A “garra de Leão” é uma referência ao símbolo da escola (o Leão) e há uma referência também a um famoso verso do poema “No Caminho do Caos”, de Carlos de Drummon de Andrade (“No meio do caminho tinha uma pedra…”).

Vai São Carlos
À força dos ancestrais
Pedra fundamental do samba

Como é comum em seus sambas, aqui há uma referência ao fato do bairro Estácio de Sá ser considerado o berço do samba. 

Batalhas e rituais
Paredes que contam histórias

Neste trecho há uma referência aos vários usos da pedra, seja como arma, seja como material de construção. 

Na sede pela vitória
Sagrada, talhada, encravada no chão
Conduz meu pavilhão

Aqui o samba volta a fazer referência à escola, lembrando da garra da sua comunidade. 

Ê roda pra lá, ê roda pra cá
Brilha na estrada seguindo o caminho do mar
Diamantes e amores, sedução e fantasia
A riqueza dos senhores
Dos escravos, alforria

Aqui há uma lembrança do trabalho com a mineração e da desigualdade oriunda desse trabalho. Também há uma referência aos escravos que escondiam ouro em seu cabelo até que isso acumulasse uma riqueza suficiente para que comprassem suas alforrias. 

No verso duro a inspiração
Da serra do meu pai e meu avô
O trem que leva a produção
Das minas a tinta do grande escritor

Neste trecho temos uma referência ao estado de Minas Gerais, onde a mineração em grande escala começou por aqui. Há também uma nova lembrança a Carlos D. de Andrade, escritor nascido em Itabira/MG, cidade onde grande quantidade de empregos vem da mineração. 

Vem peneirar, peneirar
O garimpo traz o ouro a cobiça dos mortais
Peneirar, peneirar
Devastando a natureza no Pará dos Carajás
Da Lua de Jorge, eu vejo o planeta azul chorar

Novamente a mineração é lembrada, nesse trecho com uma crítica aos problemas sociais e ambientais oriundos dela. Há também uma referência a São Jorge, padroeiro da escola. 

Atire a pedra quem não tem espelho

Referência a “atire a primeira pedra”, dito popular. 

Quero meu rubi vermelho
Pra minha Estácio de Sá

O samba termina com uma mensagem otimista, mostrando que a Estácio de Sá quer disputar o título do carnaval.